Juliana Gouthier - Jornal Pampulha
Selena Duarte Lage e Lage
Belo Horizonte ainda não era nascida, era um arraial, mas já tinha a sua fábrica de cerveja e gasosa, foi assim que entre ruidosas e justas comemorações a cidade viu nascer, no dia 12 de dezembro de 1897, em ato público soleníssimo, presidido pelo Dr. Crispim Jacques Bias Fortes, a nova capital de Minas. Cidade recém-nascida que, após a inauguração, passou a se chamar oficialmente Cidade de Minas e que só viria a se chamar Belo Horizonte em 1901.
A fábrica de cerveja começou a funcionar um pouco antes, no mesmo ano da inauguração da nova capital, em 1897, o empreendimento foi uma iniciativa do italiano Carlo Fornaciari, da região da Toscana, que em 1894 mudou-se para o então Arraial de Curral del Rei (depois Arraial de Belo Horizonte), onde estava sendo construída a nova capital mineira.
Carlo Fornaciari junto com seus filhos Ulysses e Modesto, montaram a empresa Carlo Fornaciari & Filhos, Cervejaria Rhenânia, com produção de cerveja, chope e gelo, na região da Rua Sergipe com Timbiras.
"Contando com um capital inicial de 45:000$000,00 (quarenta e cinco contos de réis) esta marca viria a ficar logo conhecida pela excelência do produto. Os Fornaciari também passaram a produzir gelo", registra o livro "100 Anos da Indústria em Belo Horizonte", coordenado por Moema Moreira Gontijo. Mensalmente, eram produzidas cerca de 18 mil garrafas de diferentes tipos de cervejas: Rhenânia (pilsen e munchen); Hamonia (preta e branca) e Victória.
No início do século XX, a prefeitura concedeu um terreno para a construção da nova fábrica na Avenida Oiapoque (onde é atualmente o shopping Oiapoque) através da política de incentivo ao desenvolvimento industrial implementada pelo governo municipal, em 1902. A nova sede da indústria, uma "construção arrojada e monumental", foi equipada com "o que havia de mais moderno em maquinário e tecnologia".
As primeiras edificações do conjunto foram concluídas em 1910. O projeto é de 1908, de autoria do arquiteto italiano Luiz Olivieri, bastante atuante na recém criada Belo Horizonte daquela época.
Carlo Fornaciari logo instala a Cervejaria Rhenânia no novo prédio, deixando o sobrado da praça da Igreja da Boa Viagem na esquina da Rua Sergipe com a Rua Timbiras que abrigou, a primeira cervejaria de Minas Gerais, a Cervejaria Rhenânia, transformou-se em um armazém de secos e molhados. Em 1959 o então "Bar da Esquina" voltou a alimentar os boêmios e mais tarde ficou conhecido como "Clube da Esquina". o local é bastante agradável, ambiente claro, amplo. A decoração é simples, sem ornamentações, mas muito bonita. A casa passou por um período de decadência no final da década de 90. Foi quando o ator e músico Marcelo Galery fez um trabalho de recuperação de estrutura e arquitetura do sobrado e devolveu um ar de nostalgia à casa. O Clube da Esquina participou do Comida di Buteco 2002, concorrendo com a "Carne de panela Manoel Sapateiro". O bar já foi frequentado por famosos como Milton Nascimento, o ex prefeito Patrus Ananias e Murilo Rubião.
Ainda segundo o livro, "a Rhenânia entrou em operação em suas novas instalações, produzindo cerveja, chope e gelo". Naquela década, a empresa chegou a ser a quarta fábrica de cerveja do Brasil. Com o sucesso do empreendimento, Carlos Fornaciari, que já trabalhava com os filhos, contou também com a ajuda de parentes que vieram para o Brasil para se dedicarem à indústria de refrigerantes em Belo Horizonte. Como foi o caso do seu irmão, Giocondo Forniciari que associado aos filhos Alladino, Italo e Marino investiram na produção de refrigerantes, como o Guaraná União e as sodas Limonada, Delícia e Soberana.
A Rhenânia foi vendida em 1922, passando a funcionar no local a então recém-fundada Cervejaria Polar.
Por sua vez, a Rhenania agora Cervejaria Polar foi vendida em 1928 para a Companhia Antarctica que constituiu em 23 de abril desse ano a filial independente Companhia Antarctica Mineira.
Ao longo do tempo, o conjunto passou por diversas reformas e acréscimos, especialmente nas décadas de 1930 e 1940. Entretanto, seus edifícios ainda guardam a volumetria original e, presentes em sua maioria, as características do estilo eclético com ênfase para os referenciais da arquitetura neoclássica, sendo um dos poucos remanescentes da arquitetura para fins industriais do início do século XX.
Não foram encontradas informações sobre quando o conjunto de edificações da Indústria de Bebidas Antárctica ficou inutilizado. Em 2000, descobriu-se que o conjunto se encontrava em avançado processo de demolição, principalmente de suas partes internas, tendo sido retirada boa parte das coberturas dos prédios. Internamente o conjunto se encontrava praticamente em estado de ruína.
Como as demolições, de acordo com os pareceres técnicos, não foram suficientes para implicar na perda das principais características arquitetônicas do bem, em 2001 o CDPCM-BH deliberou o tombamento com diretrizes especiais de proteção e projeto (Deliberação Nº 004/2001). Em 2002, o imóvel foi arrematado em leilão pelo empresário Mário Valadares que, em parceria com a prefeitura de Belo Horizonte (através do projeto da prefeitura denominado Centro Vivo), foi criado o shopping popular que tem por objetivo organizar a economia informal movimentando os que trabalhavam nas ruas da região para o interior de um estabelecimento único, de modo a oferecer para a população maior segurança, manter limpa a área central e despoluir visualmente as ruas e avenidas do centro da cidade.
O Shopping Oiapoque iniciou suas atividades em 4 de agosto de 2003.
13 comentários:
Gostei muito dessa história. Sou uma Fornaciari. Meu pai sempre me contou, que seu pai, um Fornaciari legitimo,nascido na Itália, tinha junto com sual família criado uma fábrica de cerveja em Minas. Quase não sabia nada a respeito. Foi bom saber um pouco mais.
Márcia Hortência
Belíssima história. Tenho certeza que existem centenas de histórias semelhantes sobre nossa Capital, mas que, infelizmente, não são divulgadas. Tantas coisas inúteis são ensinadas às nossas crianças no ensino fundamental e aquilo que realmente importa acaba caindo no esquecimento.
DLima.
História muito interessante , pois conheci e trabalhei para essa Cervejaria , incorporada em 1928 como Filial Belo Horizonte , quando da equipe de Engenharia da Antarctica de São Paulo idos 1978. . Dispunha de linha de engarrafamento de cervejas , produção em torno de 180.000 duzias/mês, bem como linha de refrigerantes. Foi desativada idos 1992 , quando a produção foi absorvida pela Cia Itacolomy de Pirapora .
Ola amigos! alguem sabe me dizer exatamente porque o se chama S. Oiapoque?
Sou de Oiapoque aqui no Norte do Brasil, do municipio de Oiapoque - AP e tenho essa curiosidade!?
Eu também tenho raízes dessa família,Carlo Fornaciari era meu bisavo,que eu saiba ele teve os filhos Modesto ,Ulisses, Egydio, Angelina que junto com se marido foi dona do primeiro hotel de Belo Horizonte,e um dos filhos foi embora para os Estados Unidos,por meu pai filho de Egydio soube que durante a primeira guerra perderam tudo e a família foi dividida,um dos filhos foi para Espírito Santo,outro para Rio Claro,outro para Boston e meu avô Egydio veio para São Paulo,esta é a história que conheci,creio que mesmo de longe somos parentes Meu nome é Neusa Margarida Fornasiari Rivero,Fornasiari com s porque assim escreveram no Cartório mas meu pai era Fornaciari com c,espero ter contribuido
O nome do Shopping foi dado por causa da avenida em que se localiza, que se chama Avenida Oiapoque, e que curiosamente, tem apenas 300 e poucos metros de extensão.
Neusa, informações bem interessantes. Achava até então que os filhos do Carlo eram Ulisse e Modesto. Apenas o se dois. Gostaria de conversar mais com você, saber mais do que sabe. Se puder entrar em contato comigo, agradeço. Meu email é uirafornaciari @gmail.com. Um abraço, Uirá Fornaciari
Pesquisa fantástica , com informações atualizadas e foto inédita para mim do shopping atual. Conheci e trabalhei nessa Fábrica na década de 70 e entendo que foi desativada no início da década de 90 , devido ampliação da Cia Itacolomy - Pirapora também pertencente ao Grupo Antarctica . Produziu refrigerantes até 1978 , quando essa produção foi transferida para a então Mate Couro , que operou como franquia . Volto a visualizar suas máquinas operando e o aroma do cozinhamento de cervejas e das essências no setor dos refrigerantes .
Eu sou Sylvio Fornaciari do Rio de Janeiro.Minha mãe era Ida Fornaciari
sylviofornaciari@ Hotmail.com
Tem Fornaciari fazendo cerveja ainda em João Neiva, ES, e Governador Valadares MG. A família do meu esposo é Fornaciari, vindos da Itália, não sei se existe um parentesco.
O prédio não foi arrematado em leilão, mas sim comprado pelo Sr, Mário Valadares diretamente da Ambev, então sucessora legal da Cia Antarctica.
O preço pago pelo Sr. Mário Valadares foi de apenas R$ 1.050.000,00 (um milhão e cinquenta mil reais), isso em 14/11/2002
Ler e reler estas publicações da Cervisiafilia é gratificante . Trabalhei na área , de 1970 a 2012 , conheci a Fábrica da Oiapoque - BH desde idos 1978 e destaco que a cerveja escura Creoula , rótulo apresentado acima , é a mesma que vi engarrafar na Antarctica de Ribeirão Prêto em 1971 - 1972 , quando lá trabalhei . Entendo que foi uma estratégia para concorrer com a apreciada cerveja Niger produzida pela Cervejaria Paulista daquela cidade . Agora mistério para mim desvendado com a publicação acima . Ricardo C. Forghieri
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