domingo, 31 de outubro de 2010

Bopp, Sassen, Ritter & Cia Ltda. / Cervejaria Continental S/A (1924 - 1946)





Em 19/06/1924, o jornal Correio do Povo (ANNO - XXX - Num.145 p. 4) divulgava a fusão de fábricas de cerveja em Porto Alegre:

"...Em várias reuniões que se vem realisando, há semanas, as fábricas de cerveja desta capital, que girara sob a razão social de Bopp & Cia., H. Ritter e Filhos e Bernardo Sassen e filhos, resolveram fazer fusão constituindo-se numa só firma. As negociações acabam de chegar a seu termo, devendo ser activado o contracto social na Junta Commercial, dentro de poucos dias. As fábricas girarão, agora sob a razão social de Bopp, Sassen, Ritter &. Cia., e seu capital será de nove mil contos de réis. De accordo com a fusão a fabrica Ritter & Filhos deixará de funcionar logo que entre em vigor a nova firma, sendo que as cervejarias Becker (Sassen) e Bopp, continuarão na fabricação de cerveja até que terminem as obras que se vem fazendo nesta última, a qual ficará, então, como a única existente nesta capital. Quanto às marcas de cada uma das fábricas que fazem a fusão, continuarão em vigor. A nova firma, proprietária das fábricas de cerveja, pretendem ainda extender a sua acção à indústria de outras bebidas entre as quaes se contam gazosas, aguas mineraes e licores..."

A fusão foi o produto final do desaparecimento de grande parte das cervejarias nos anos posteriores ao final do século XIX, quando haviam 21 fabricantes de cerveja em Porto Alegre.

Para fazer frente à expansão da carioca Brahma e da Antártica Paulista, que procuravam firmar-se no mercado gaúcho as remanescentes Bopp, Sassen e Ritter, que dispunham de aparelhagem mais moderna e competitiva, fundiram-se em 1º julho de 1924 para constituir a Cervejaria Bopp, Sassen, Ritter e Cia Ltda. que se instalou com todo o seu maquinário no prédio da Cervejaria Bopp, na Av. Cristóvão Colombo, 625. O prédio, concebido para servir a uma indústria, tem pés-direitos elevados e amplas janelas e espaços internos. Na fachada existem diversos grupos escultóricos muito interessantes, dentre eles a estátua de Gambrinus, outra de Mercúrio, um grande elefante ladeado por dois grupos de meninos carregando globos, além de diversos atlantes em trajes germânicos, bebedores de cerveja com copos nas mãos, diversas faces humanas, figuras de animais, barris e uma profusão de florões, arcadas, frisos, relevos, uma torre com relógio, cúpula e estátuas sobre a entrada principal, e outros elementos decorativos que caracterizam o seu estilo eclético e historicista, típico de Wiederspahn.

O complexo compreende vários edifícios, além de contar com uma chaminé monumental, criando um conjunto de volumetria dinâmica e atraente que, associada à sua ornamentação e história, formam um dos marcos arquitetônicos mais importantes da cidade.

Em 1924, em função das dificuldades de importação de matérias primas (lúpulo e malte), para se livrar da importação a sociedade decidiu construir um edifício que abrigasse uma câmara de preparação de malte, contrataram para o projeto desta construção inédita, o engenheiro alemão Willy Stein.
A maltaria era um conjunto no qual faziam parte o bloco de depósitos de cevada crua, o da produção e o dos silos em concreto, as dimensões da fábrica de cevada eram de 15,95 x 55,35 m sendo que a altura variava conforme a atividade interna; silos com 30 m, secadouros com 23 m e demais áreas com 19 m. Em 1932 foi aprovado o projeto para o prédio da produção e os depósitos, o projeto dos silos somente em 1936 tendo como construtores a firma Haessler & Woebke. Esse conjunto foi demolido quando da construção do shopping.


Além das marcas escritas na propaganda acima, datada de 1929, fabricavam, entre outras marcas famosas, as cervejas Capital, Continental, Diana, Farroupilha, além de sodas, refrigerantes e gelo.








Em 24 de agosto de 1935 é publicado o registro da Cervejaria e maltaria Continental por Bopp, Sassen. Ritter & Cia. Limitada.

A Editora Globo realizava anualmente um concurso interno para a escolha do artista que criaria a capa natalina da Revista do Globo. Um dos vencedores desse concurso foi Nelson Boeira Faedrich, em dezembro de 1935, com um anúncio colorido, de página inteira que representava os três reis magos oferecendo ao leitor: um barril de Chopp, uma garrafa de “Guaraná” e uma de cerveja “Oriente”, todos produtos da Cervejaria Continental. A cervejaria era um anunciante frequente dessa revista publicada em Porto Alegre - RS e editada pela Livraria do Globo, sendo caracterizada pelo subtítulo “Quinzenário de Cultura e de Vida Social”.

As peças litográficas, na época, eram impressas numa pedra especial, vinda da Alemanha. Só depois a ilustração publicitária evoluiu para as gravuras em zinco, até chegar ao fotolito. A arte litográfica só continuou a ser usada pelos artistas, para suas obras individuais, por ser um método difícil de reprodução em grandes quantidades. Como solução, em dezembro de 1938, a Livraria do Globo inaugura em suas oficinas uma máquina de impressão litográfica-off-set, adquirida na Alemanha, possibilitando realizar até 47.000 impressões por hora e destinada à realização de encomendas de grande porte. Na sua inauguração imprimiu milhares de rótulos da Cervejaria Continental, constituindo-se o primeiro trabalho publicitário realizado em “off-set”, elaborado nas oficinas da Globo.


Por essa época através de slogan a Cerveja Continental ficou conhecida como “a marca que por si se impõe”.


Parte da frota em 1940

Em 1941 a Cervejaria Continental, instalou um campo experimental de cevada em Encruzilhada do Sul, no Rio Grande do Sul.

A Cervejaria participava de muitas atividades relacionadas com a cidade de Porto Alegre, ainda em 1941 foi realizado o Campeonato da cidade de Bolão com a participação de 13 associações, sendo cada grupo composto de 10 homens, totalizando 130 competidores que disputaram, em conjunto, a taça Cervejaria Continental e a taça estímulo móvel Coronel Osvaldo Cordeiro de Farias.




Nota: Em 1944 a razão social era: Bopp, Sassen, Ritter & Cia Ltda e no final do ano de 1945 já havia passado para Cervejaria Continental S/A. Não encontrei documentação da alteração da razão social.

Em 5 de novembro de 1946, o então o maior grupo cervejeiro do Rio Grande do Sul, a Cervejaria Continental S/A, foi incorporado pela Cervejaria Brahma, com matriz no Rio de Janeiro, transformando-se na maior potência cervejeira nacional. A Cervejaria Brahma continua com as pesquisas do campo experimental de cevada em Encruzilhada do Sul.
A fábrica permaneceu em atividade até 1998, quando mudou-se para o Município de Viamão.

Desde 1979, o terreno ocupado pela Brahma foi incluído na delimitação da Área Funcional de Preservação Cultural e de Proteção da Paisagem Urbana, e os imóveis de nº 545, 691 e 695, que abrigam os antigos prédios da cervejaria, foram listados como edificações de interesse sócio-cultural para preservação, por seu mérito histórico, arquitetônico e paisagístico. Em 1999, o conjunto foi tombado pelo Município, compreendendo os prédios que abrigavam administração, departamento industrial, fabricação da cerveja , casa de máquinas, depósito de matérias primas e adegas, casa de caldeiras e chaminé, inscritos no Livro Tombo sob nº 58.

O conjunto foi comprado pelo grupo Correio do Povo, sendo administrado pela empresa Unicenter, sob empreendimento do grupo Porto Shop, que ali instalaram um shopping center.

O complexo foi ocupado por um bem sucedido shopping center, o Shoping Total com 457 lojas, administrado pelo Grupo Porto Shop, que realizou a transformação com um investimento de R$ 40 milhões, foram instalados nas dependências do complexo muitos espaços para serviços diversos, cultura e lazer. A visitação mensal média chega à marca de 550 mil pessoas. Foi inaugurado em 29 de maio de 2003, com 42 mil m² de área construída, 4 andares e um estacionamento para 7.200 carros.




domingo, 3 de outubro de 2010

Cervejaria Providência


Texto e imagens retirados do Jornal AMA Bigorrilho - Curitiba - PR/Denize Ernlund Metynoski


Ernesto Bengtsson, imigrante sueco, após seu casamento com Krestruna natural da Islândia, fixou residência em Guajuvira, PR e ali nasceram seus quatro filhos: Anna, Carlos, Emma Ernestina e Amália.

Em Guajuvira, Ernesto tinha uma fábrica de barricas de madeira, naquela época havia uma grande demanda de barricas para embalar produtos comercializados e até exportados, principalmente erva-mate. Foi como fornecedor de barricas que ele travou conhecimento com o então proprietário de uma cervejaria e quando este decidiu vender a cervejaria e a área onde estava instalada, Ernesto decidiu comprar e mudar-se para Curitiba para onde Anna, já casada com João Pedro Jonsson Kronland,havia se mudado.

Em 1901, Ernesto e João Pedro adquiriram a área de cerca de 78.000 metros quadrados, onde já havia duas casas, ali passaram a residir, também havia a pequena fábrica de cerveja. Pretendendo se dedicar à fabricação de cerveja Ernesto e Kronland contrataram um engenheiro para fazer o projeto do prédio, com a parte residencial ocupando toda a frente da construção e instalações para a fábrica nos fundos, essa construção ficava no Bairro do Batel, na Rua Francisco Rocha na altura da Rua Guttemberg.

Com o maquinário importado da Europa, foi constituída a firma Ernesto Bengtsson & Cia. - Cervejaria Providência, que passou a ter como sócios majoritários Ernesto e seu genro Kronland e como sócios minoritários os filhos: Carlos, Emma Ernestina e Amália.

Ernesto auxiliado por seu filho Carlos era responsável pela parte industrial e comercial e Kronland responsável pela administrativa. No início a cervejaria somente produzia uma cerveja escura engarrafada com o nome Cerveja Providência.


De 30 de abril a 1º de dezembro de 1904 a Cervejaria Providência participou da Exposição Internacional de St. Louis (Louisiana Purchase Exposition St. Louis – 1904) recebendo medalha de bronze por suas cervejas.

Em 16 de março de 1907 foi publicado no Diário Oficial da União o deferimento do requerimento que Ernesto Bengtsson & Cia. fez para pagamento do depósito da marca Olho que distingue suas cervejas e bebidas alcoólicas, marca registrada na Junta Comercial do Paraná.

Entre 1907 e 1909, a família adquiriu da Baronesa de Serro Azul uma outra área, no bairro do Bigorilho, limítrofe do Batel, e também foram adquirindo vários lotes de pequenos proprietários perfazendo 42.900m quadrados, entre a Campina do Siqueira e a área adquirida em 1901. Essa nova área agregada que passou a se chamar Chácara da Providência, tinha uma nascente e um riacho que foi represado formando um lago.

Nessa época Curitiba tinha poucas opções de lazer para as famílias, Ernesto mandou preparar uma área dentro da Chácara da Providência com mesas para piquenique em meio à mata nativa.

O parque Recreio da Providência, como ficou conhecida a área preparada, atraía muitas pessoas nos finais de semana. Era um dos melhores pontos de encontro dos curitibanos na época.

Em 1910 uma banda foi contratada para animar o Parque, tocando em um grande pavilhão aberto e muitos músicos amadores ali tocaram.

O Recreio estendia-se da avenida batel até a Rua Saldanha Marinho, ficando dentro de sua área o local onde mais tarde foi instalada a sede campestre da sociedade União Juventus. A entrada do Recreio Providência era um grande portão sob um arco localizada na Avenida Batel, exatamente em frente onde hoje é a Praça do Batel.

A linha do bonde passava pela Av. Batel bem em frente ao portal do Parque da Providência, o arco do portal continha os dizeres "Entrada do Recreio da Providência". Ainda hoje é possível ver antigos cedros e pinheiros do Recreio nessa região. Nos finais de ano era no Recreio Providência que os funcionários das grandes empresas reuniam-se para as comemorações. Aos domingos e feriados, no coreto uma banda animava o público até às 22 horas.

A Cervejaria Providência foi ampliada e a cerveja ali produzida passou a ser muito apreciada entre os curitibanos. Cerveja de alta qualidade, a Providência chegou até mesmo a ser premiada em 1911, na Exposição internacional Turim-Roma.

Em 1912, Emma Ernestina casou-se com João Elijan Bentham Ernlund.

Na chácara providência, como era chamada, nasceram os filhos de João Elijan e Emma Ernestina: Oscar (nascido em 30/08/1913), Ellen, Elvira (falecida aos quatro anos), Waldemar (falecido aos oito anos), Ewald, Gerda, Hjalmar e João Reinaldo.
Oscar Edvin Villiam Ernlund, ainda muito jovem, também participou das atividades da cervejaria de sua família, onde trabalhou como perito contador.

A partir de 1915, passou a fabricar três tipos de cervejas: a Providência escura, a Pilsen e a Sueca Especial.




A Cervejaria Providencia foi a primeira cervejaria do sul do Brasil a exportar seus produtos para países da América do Sul.

Em janeiro de 1919, João Elijan Ernlund, genro de Ernesto Bengtsson, entrou como sócio minoritário da Cervejaria Providência, passando a trabalhar na parte industrial da empresa.

Da mesma forma que havia sido premiada anteriormente em duas exposições, foi também premiada nas Exposições: do Centenário do Brasil, no Rio de Janeiro (1922), Gotemburgo (1923), Estocolmo (1930) e Centenário Farroupilha (1935). E os seus rótulos passaram a divulgar as imagens das premiações recebidas.




Em 1930, seu genro e sócio João Pedro Jonsson Kronland vendeu sua parte nas terras e na fábrica para Ernesto Bengtsson que passou a ser o único proprietário.



Balcão e estoque de atendimento ao público.

Em 20 de julho de 1935 sob os números 37994 e 37995 foram feitas renovações de registro das cervejas Providencia Escura e Sueca Especial.

Com a morte de Carlos Bengtsson, em 1940, João Elijan assumiu totalmente a parte industrial da cervejaria. E como os herdeiros não se entendiam a fábrica acabou sendo vendida em 1945.


Os novos proprietários ainda mantiveram a fabricação de cerveja por poucos anos, mas nos anos seguintes migraram as instalações para a fabricação de produtos plásticos mantendo, entretanto, o nome Providência.

sexta-feira, 1 de outubro de 2010

Cervejaria Santo Antonio


Texto e imagens retirados do Livro: Indústrias de Bebidas na Lapa
Autores: Valmor E. Mendonça e Marilia Souza do Valle


Antonio Dittrich que originalmente assinava Anton Dittrich, nascido na Áustria a 10 de janeiro de 1865, chegou ao Brasil, no ano de 1879, com quatorze anos de idade, veio em companhia de uma leva de imigrantes que aportaram inicialmente no Porto de Santos sendo que mais tarde, se dividiram, tendo migrado um grupo para a Colônia Dona Francisca em Santa Catarina, sendo que a maior parte dos mesmos se dirigiu para o Paraná, principalmente para as cidades de Curitiba e Lapa.

O Cervejeiro, como era conhecido o senhor Antonio Dittrich, era pessoa muito conhecida tendo participado ativamente na vida econômica e social da cidade. Foi um dos fundadores do Clube Teuto Brasileiro, onde tocava violino na banda, tendo tido atuação ativa, na Revolução Federalista, no episódio relativo ao Cerco da Lapa, tanto que foi merecedor de constar seu nome, entre os heróis daquele embate, perpetuado através de uma placa afixada no interior do Panteon dos Heróis.

Antonio Dittrich era casado com a Sra. Luiza dos Santos Dittrich, com quem teve quatorze filhos, entre os quais, pode-se citar Jose, Leocádio casado com Zenira Mayer Dittrich , Adolpho, Jorge, Luis casado com Guilhermina Helena Schelleter, Konrado casado com Olga Renaud Dittrich, Rosa casada com Fernando Weinhardt, Priscila, Tarcila, esta ultima, mãe da sra. Aline Zappa, pessoa muito conhecida na Lapa, por sua brilhante atuação, frente à educação, atuando em vários colégios, assim como, escritora.

Em 1898, com trinta e três anos de idade, e já residindo na Lapa, Antonio Dittrich decide iniciar a fabricação de bebidas e usando o conhecimento que certamente adquiriu em convívio com seus antepassados e antigos compatriotas funda a cervejaria Santo Antonio. A fábrica foi instalada na localidade conhecida como Stinglin, no quarteirão denominado de Casa de Telha, situada na periferia da Lapa, na antiga saída para a cidade de Rio Negro.

Residia na Avenida das Tropas onde posteriormente se instalou a indústria de bebidas de seu filho José, onde hoje se acha a Rodoviária da cidade.

Nos primeiros tempos de existência da fábrica, os rótulos eram estampados em língua alemã, havendo dois tipos de diferentes cervejas, um, a Exportbier tipo kulmbach, e outra a “Pschorr-bier”.



A cerveja produzida na época ficou conhecida como "cerveja barbante", porque a mesma era amarrada com um fio no gargalo, no intuito de segurar a rolha que fechava a garrafa, pois ocorria que se não se tomasse esse cuidado, com a movimentação ou trepidação, a mesma poderia saltar, devido ao processo de fermentação.

De acordo com documento de recolhimento de estampilhas, Antonio Dittrich fabricava uma cerveja tipo bávara, com a marca “Clarinha”, conforme foto do rotulo em anexo, alem de gasosas com sabor de frutas.



As garrafas eram importadas da Alemanha, sendo adquiridas de importadores de Curitiba, principalmente da Firma Charleshü e Cia., localizada na Rua Quinze de Novembro, nº 29, que era agente distribuidor para o Paraná, da Fabrica Santa Marina, fornecedores de garrafas vazias para a indústria de bebidas.

Toda a produção era vendida em bares e clubes da cidade e periferia, sendo as entregas feitas com a utilização de carroções, cujo uso e costume foi trazido por outros colonizadores, os poloneses, já que na época, não existia outro meio de transporte, como caminhões.

Ainda sobre a cerveja Clarinha, fabricada pela Cervejaria Santo Antonio, é de se registrar que em 1932, conforme a publicação Deutsche Kallenders, a Cervejaria Catarinense, de Joinvile, mais tarde absorvida pela Cia. Antarctica Paulista, fabricava uma cerveja clara, tipo pilsen, com o nome também de Clarinha. Isto só era possível, porque na época, não havia o regime de registros de patentes e marcas.

Esta indústria esteve em funcionamento ate o final da década de 30, do século XX, quando veio a fechar, possivelmente em função da dificuldade para a aquisição de matéria prima, no caso, o lúpulo e a cevada, produtos importados da Alemanha e da Califórnia, em conseqüência dos desdobramentos da Segunda Guerra Mundial.

Antonio Dittrich faleceu na cidade da Lapa, onde sempre morou, aos setenta e oito anos, no dia 20 de junho de 1943.


Cervejaria Guarany / Serrana



A Cervejaria Guarany, de Campo Alegre em Santa Catarina desempenhou um papel importante na história das cervejarias da região. Fundada por volta de 1923, por Adolph Friedrich, a cervejaria inicialmente não passava de uma instalação caseira. Mais tarde, já na década de 1930, construiu-se um prédio mais adequado para uma produção comercial, prédio este que ainda existe. Trata-se da última edificação usada nas antigas cervejarias que ainda não foi demolido. Naquele local existe uma fonte de água muito boa que brota numa fenda de rocha, que se mostrou excelente para fabricação de cerveja.



A Cervejaria Guarany produzia inicialmente só a cerveja preta "Kulmbach" ou "Porter".



Com o falecimento do velho Adolph Friedrich, ocorrido em 1947, o negócio passou a ser conduzido por seu filho Ervino, que se associou a diferentes pessoas em diferentes épocas.

Inicialmente quem se associou a Ervino Friedrich na cervejaria foi Carlos Brandes. Esse cidadão era gerente da fábrica de amido de milho Lorenz & Cia., de Timbó, empresa que montou uma filial em Campo Alegre junto a cascata do rio Turvo, onde construíram uma pequena hidrelétrica para fornecer energia ao empreendimento, ele mais tarde, em 1936, foi também prefeito da cidade. Mais tarde admitiram na sociedade da cervejaria Arnaldo Duvoisin e Ernesto Friedrich, este último irmão de Ervino.

Nesse tempo toda a produção de cervejas e refrigerantes eram feitas por Ervino Friedrich e um único funcionário, seu futuro genro Eugen Bartsch. Isso incluía lavar garrafas, produzir cerveja e refrigerantes, engarrafar, rotular as garrafas, carregar caminhões e as vezes fazer entregas nos bares e restaurantes da região. Muitos bares e vendas e quase nenhum restaurante. Era um serviço colossal para apenas duas pessoas, não raro entravam madrugadas adentro nas lidas da cervejaria.

Ernesto Friedrich, que era proprietário de um grande moinho de cereais tocado por roda d'água nas margens do rio Turvo, no centro de Campo Alegre, se retira da sociedade após curto período vendendo seus interesses na firma para Atanagildo Schmidt, que atua na comercialização de erva-mate.

Passado algum tempo, Carlos Brandes também se afasta e acaba por vender sua participação na Cervejaria Guarany para Otto Zschoerper, de São Bento. Isso ocorre no início da década de 1950.

Um pouco mais tarde, por volta de 1955, muda-se a razão social para Cervejaria Serrana Ltda., adotando o nome de outra antiga cervejaria de Campo Alegre, que já havia fechado há muito. Modernizam um pouco a produção e passam a produzir três tipos de cervejas: " "Serrana-Pilsen", "Soberana-Kulmbach" e "Malzbier", além de gasosas de gengibre e guaraná "espumante".



Com o passar do tempo, as relações entre os sócios Friedrich e Zschoerper passam por sobressaltos e a empresa entra gradativamente em dificuldades.

No início da década de 1960, a cervejaria descontinua sua produção própria, que nos últimos tempos era ainda só da cerveja preta Soberana-Kulmbach, passando então a distribuir produtos Brahma. Ainda produziam gasosa e engarrafavam aguardente de cana.

Com a situação financeira da empresa piorando rapidamente, Zschoerper contrata Lauro Lepeck em São Bento, que passa a ser seu homem de confiança na firma afiliada, em Campo Alegre. Atanagildo Schmidt e Arnaldo Duvoisin vendem suas cotas aos Zschoerper mas Ervino Friedrich não queria essa solução para sí e se recusava a vender para este. A solução que se encontrou foi introduzir um agente estranho no negócio para o qual Friedrich concordou em vender sua parte; Alfredo Müller, morador em São Bento do Sul. Parece que foi financiado por Otto Zschoerper para que pudesse concretizar a transação. Seria o que atualmente se denomina como "laranja".

Surge por essa época em Campo Alegre um outro personagem que se introduz na sociedade comercial alardeando que possuía recursos para sanar financeiramente a empresa. Seu nome era Sait-Claire Abel Fontoura Leite. Se dizia major reformado do exército. A intervenção desse cidadão foi um desastre completo pois tomou algumas péssimas atitudes administrativas endividando a empresa ainda mais, empurrando-a definitivamente para a insolvência.

A firma agora com o nome mudado para "Bebidas Campo Alegre Ltda." estava a ponto de ser leiloada em 1968, quando Zschoerper fez uma proposta a Lauro Lepeck: este assumiria as dívidas e se conseguisse levantá-las, coisa que parecia difícil, ficaria com o negócio, o prédio e a casa anexa. Este aceitou o desafio e acabou por se dar bem. Conseguiu sanar as dívidas e continuou a distribuir os produtos da Brahma em Campo Alegre por vinte e cinco anos ainda, até 1993, quando se transformou num atacado de bebidas, que distribuía produtos de vários fabricantes como Brahma, Skol, Antárctica, Schincariol, etc. negócio que encerrou finalmente em 1998. Dessa forma a empresa sucessora das antigas Cervejarias Guarany e Serrana, de Campo Alegre, foi a última a encerrar suas atividades na região.

Cervejaria Adriática



Nas atividades industriais exercidas pelos alemães, merece destaque o fabrico de cerveja. Muitas fábricas de importância regional foram instaladas e posteriormente absorvidas pelas grandes indústrias de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Entre tais cervejarias destacou-se principalmente a Cervejaria Adriática em Ponta Grossa, Estado do Paraná.


No final do século XIX, o alemão Heinrich (Henrique) Thielen, natural da Alemanha, chegou ao Paraná com 9 anos de idade, indo residir com sua família no litoral do Estado, mais precisamente nos arredores da cidade de Morretes, sobrevivendo da lavoura. Pouco tempo depois mudou para Curitiba e posteriormente radicou-se em Ponta Grossa. Seu nome está indissociavelmente ligado ao da Cervejaria Adriática, um dos maiores símbolos da identidade ponta-grossense.

Em 1893 a Cervejaria Grossel abre uma filial, na Rua do Chafariz (atual Avenida Vicente Machado), em Ponta Grossa.

Aos quinze anos de idade, Henrique empregou-se na fábrica de cerveja que era na verdade a dona do capital investido na fundação da Cervejaria Adriática. Por volta de 1896 e somente depois de instalada a indústria em Ponta Grossa é que Henrique Thielen, seu primeiro administrador passa a dirigir a fábrica, tornando-se sócio e mais tarde, seu proprietário, alterando, em 1906, o nome para Fábrica Adriática de Cervejas de Henrique Thielen, nesta época produzia e vendia cerveja, gelo, águas minerais e malte.
A constante ampliação dos mercados fez com que Thielen trouxesse da Alemanha, no final da década de 1910, novos equipamentos com capacidade de produzir ate 30.000 hectolitros/ano de cervejas, gasosas e agua mineral.

Desde sua fundação ate o ano de 1911 a Adriática somente produzia duas qualidades de cerveja, uma clara e outra escura, ambas em alta fermentação. A partir desse ano, Thielen diversificou a produção, e começou a fabricar cerveja com baixa fermentação, instalando maquinas que produziam anualmente 6.000 hectolitros da bebida. A qualidade das cervejas da Adriática garantiu a Thielen uma grande inserção nos mercados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Além desses, diversos outros estados brasileiros, bem como diversos países europeus, eram abastecidos com os produtos da indústria comandada por Henrique Thielen.

Na fábrica foram elaboradas técnicas de produção de gelo e de águas minerais, cujas marcas “Soda Limonada”, “Framboeza”, “Salus” e “Gengibirra” conquistaram o gosto dos consumidores da época.

Pretendendo ampliar ainda mais seus negócios e melhorar a quantidade da cerveja que produzia, Henrique Thielen solicita durante governo do prefeito José Bonifácio Guimarães Vilela licença para a construção da grande fábrica de cerveja Adriática, na Avenida Vicente Machado.



Em 1913 encaminha seu filho Alberto para a Alemanha, com objetivo de aprimorar a técnica de cervejeiro. Este permaneceu na Europa entre 1913 e 1919.

Em 9 de agosto de 1913 registra a Cerveja Brilhante sob o nº 1157 da Junta Comercial do Estado do paraná.

Em 22 de dezembro de 1918 registra a Cerveja Adriática sob o nº 1467 da Junta Comercial do Estado do paraná.

Em 1919 Alberto retorna à Ponta Grossa, assumindo a condição de sócio da indústria do pai, criando a Companhia Cervejaria Adriática S/A, transformando em sociedade anônima a já existente Cervejaria Adriática, antiga fábrica de cerveja de seu pai, Henrique Thielen.

A Companhia Cervejaria Adriática S/A foi constituída em 2 de julho de 1919, tendo sido publicados os atos de sua constituição no Diário Oficial, do Paraná, de 11 de agosto do mesmo ano, dotando-a assim de um maior poder econômico e, conseqüentemente, garantindo a expansão de suas atividades. Quando isso ocorreu, a área física ocupada pela indústria era de 3.500 metros quadrados. Cerca de 120 operários trabalhavam na Adriática, todos protegidos por seguro da Companhia Lloyd Industrial Sul Americano, uma raridade para aquela época. Essa particularidade condiz não exclusivamente com uma preocupação com os operários da fábrica, mas também com um olhar visionário da indústria. Pensando que qualquer debilidade física do operário cervejeiro acarretaria num tempo contado de prejuízo para a fábrica, um auxílio a qualquer tipo de dano que condicionaria na paralisação das funções do indivíduo na fábrica se transforma, nesse caso, numa circunstância de seguro para a produção da fábrica e não simples e unicamente uma forma de proporcionar segurança ao proletariado da empresa.

Em 1921 é anunciado no jornal: A Companhia Cervejaria Adriática S/A ("palácio do néctar espumante"), à frente o dinâmico cel. Henrique Thielen, joga no mercado quinze mil dúzias de "Adriática Pilsen, Adriática Poschorr, Operária, Primor" e a muito afamada "Cachorrinha", todas "leves e límpidas no seu amarello-topázio".


Por tudo isso a Adriática tornou-se o maior símbolo da industrialização ponta-grossense. Devido a relevância da indústria, Thielen ingressou na política. Foi nomeado Coronel da Guarda Nacional pelo Governo Federal e escolhido como Presidente de Honra do Centro Commercio e Indústria de Ponta Grossa (antecessor da ACIPG), quando da fundação dessa entidade em 18 de junho de 1922. Assim, Henrique Thielen se configura como um dos pioneiros do processo de industrialização em Ponta Grossa e um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento economico da cidade.
Henrique Thielen destacou-se como empresário e político. Eleito vereador várias vezes, exerceu a função de prefeito como substituto do titular. Foi também, a partir de 1926, cônsul da Áustria durante alguns anos.

O novo edifício da Companhia Cervejaria Adriática, na Rua Vicente Machado, é inaugurado em 1923.

O Diário Oficial da União publicou no dia 02 de fevereiro de 1923 a relação dos premiados na Exposição Internacional do Centenário da Independência na qual constava a Cervejaria Adriática como tendo recebido medalha de ouro.

Após algum tempo, por volta de 1926, Alberto Thielen constrói a sua residência, a mansão Villa Hilda, título dado em homenagem à sua espôsa, Ida Hilda Schust, com a qual havia casado em 1920 e tiveram dois filhos: Alberto Henrique e Rodolpho Francisco. O imóvel localizado à Rua Júlia Wanderley, esquina com a Rua Cel. Dulcídio, possui arquitetura francesa, com dois pavimentos e mirante, sendo que as paredes internas foram pintadas com paisagens européias pelo artista Paulo Wagner. A casa simbolizava a prosperidade dos Thielen, um novo estilo, um novo espaço urbano, afastado das residências das famílias tradicionais, situadas no alto da colina. A residência foi comprada pela Prefeitura na década de 70, para abrigar a Biblioteca Municipal. Hoje a mansão abriga a Fundação de Cultura e apresenta esporádicamente exposições itinerantes.

Em 1928 a Companhia Cervejaria Adriática, começa a fabricar refrigerantes e engarrafar água mineral.

Em 02 de dezembro de 1931 registra sob os nº 21911 e 21912 as cervejas Original e paranista, a Original logo passa a ser sua principal marca e em 19 de dezembro deste mesmo ano registra a Cerveja Real Pilsen sob o nº 22095.

Em 11 de maio de 1932 renova os registros das cervejas: Brilhante, Adriática Bock, Operária, Primor e Adriática Especial (Cachorrinha) sob os nº 23389 a 233939 da JCPR e em 20 de julho de 1934 registra sob o nº 31537, a Cerveja Brasilense.

Em 1941 a Companhia Cervejaria Adriática, passa a ser controlada pela Cervejaria Antarctica e em 1943 é completado o processo de incorporação.


Em 1973, por causa do processo de descentralização na Antarctica é criada a Companhia Sulina de Bebidas Antarctica da qual fazem parte as unidades de Joinville em Santa Catarina e as unidades de Ponta Grossa e Curitiba no Paraná .

No ano de 1992. A unidade de Ponta Grossa deixa de operar definitivamente.
A demolição do prédio aconteceu aos poucos e terminou em 2005, para dar lugar a um novo empreendimento.