domingo, 31 de outubro de 2010

Bopp, Sassen, Ritter & Cia Ltda. / Cervejaria Continental S/A (1924 - 1946)





Em 19/06/1924, o jornal Correio do Povo (ANNO - XXX - Num.145 p. 4) divulgava a fusão de fábricas de cerveja em Porto Alegre:

"...Em várias reuniões que se vem realisando, há semanas, as fábricas de cerveja desta capital, que girara sob a razão social de Bopp & Cia., H. Ritter e Filhos e Bernardo Sassen e filhos, resolveram fazer fusão constituindo-se numa só firma. As negociações acabam de chegar a seu termo, devendo ser activado o contracto social na Junta Commercial, dentro de poucos dias. As fábricas girarão, agora sob a razão social de Bopp, Sassen, Ritter &. Cia., e seu capital será de nove mil contos de réis. De accordo com a fusão a fabrica Ritter & Filhos deixará de funcionar logo que entre em vigor a nova firma, sendo que as cervejarias Becker (Sassen) e Bopp, continuarão na fabricação de cerveja até que terminem as obras que se vem fazendo nesta última, a qual ficará, então, como a única existente nesta capital. Quanto às marcas de cada uma das fábricas que fazem a fusão, continuarão em vigor. A nova firma, proprietária das fábricas de cerveja, pretendem ainda extender a sua acção à indústria de outras bebidas entre as quaes se contam gazosas, aguas mineraes e licores..."

A fusão foi o produto final do desaparecimento de grande parte das cervejarias nos anos posteriores ao final do século XIX, quando haviam 21 fabricantes de cerveja em Porto Alegre.

Para fazer frente à expansão da carioca Brahma e da Antártica Paulista, que procuravam firmar-se no mercado gaúcho as remanescentes Bopp, Sassen e Ritter, que dispunham de aparelhagem mais moderna e competitiva, fundiram-se em 1º julho de 1924 para constituir a Cervejaria Bopp, Sassen, Ritter e Cia Ltda. que se instalou com todo o seu maquinário no prédio da Cervejaria Bopp, na Av. Cristóvão Colombo, 625. O prédio, concebido para servir a uma indústria, tem pés-direitos elevados e amplas janelas e espaços internos. Na fachada existem diversos grupos escultóricos muito interessantes, dentre eles a estátua de Gambrinus, outra de Mercúrio, um grande elefante ladeado por dois grupos de meninos carregando globos, além de diversos atlantes em trajes germânicos, bebedores de cerveja com copos nas mãos, diversas faces humanas, figuras de animais, barris e uma profusão de florões, arcadas, frisos, relevos, uma torre com relógio, cúpula e estátuas sobre a entrada principal, e outros elementos decorativos que caracterizam o seu estilo eclético e historicista, típico de Wiederspahn.

O complexo compreende vários edifícios, além de contar com uma chaminé monumental, criando um conjunto de volumetria dinâmica e atraente que, associada à sua ornamentação e história, formam um dos marcos arquitetônicos mais importantes da cidade.

Em 1924, em função das dificuldades de importação de matérias primas (lúpulo e malte), para se livrar da importação a sociedade decidiu construir um edifício que abrigasse uma câmara de preparação de malte, contrataram para o projeto desta construção inédita, o engenheiro alemão Willy Stein.
A maltaria era um conjunto no qual faziam parte o bloco de depósitos de cevada crua, o da produção e o dos silos em concreto, as dimensões da fábrica de cevada eram de 15,95 x 55,35 m sendo que a altura variava conforme a atividade interna; silos com 30 m, secadouros com 23 m e demais áreas com 19 m. Em 1932 foi aprovado o projeto para o prédio da produção e os depósitos, o projeto dos silos somente em 1936 tendo como construtores a firma Haessler & Woebke. Esse conjunto foi demolido quando da construção do shopping.


Além das marcas escritas na propaganda acima, datada de 1929, fabricavam, entre outras marcas famosas, as cervejas Capital, Continental, Diana, Farroupilha, além de sodas, refrigerantes e gelo.








Em 24 de agosto de 1935 é publicado o registro da Cervejaria e maltaria Continental por Bopp, Sassen. Ritter & Cia. Limitada.

A Editora Globo realizava anualmente um concurso interno para a escolha do artista que criaria a capa natalina da Revista do Globo. Um dos vencedores desse concurso foi Nelson Boeira Faedrich, em dezembro de 1935, com um anúncio colorido, de página inteira que representava os três reis magos oferecendo ao leitor: um barril de Chopp, uma garrafa de “Guaraná” e uma de cerveja “Oriente”, todos produtos da Cervejaria Continental. A cervejaria era um anunciante frequente dessa revista publicada em Porto Alegre - RS e editada pela Livraria do Globo, sendo caracterizada pelo subtítulo “Quinzenário de Cultura e de Vida Social”.

As peças litográficas, na época, eram impressas numa pedra especial, vinda da Alemanha. Só depois a ilustração publicitária evoluiu para as gravuras em zinco, até chegar ao fotolito. A arte litográfica só continuou a ser usada pelos artistas, para suas obras individuais, por ser um método difícil de reprodução em grandes quantidades. Como solução, em dezembro de 1938, a Livraria do Globo inaugura em suas oficinas uma máquina de impressão litográfica-off-set, adquirida na Alemanha, possibilitando realizar até 47.000 impressões por hora e destinada à realização de encomendas de grande porte. Na sua inauguração imprimiu milhares de rótulos da Cervejaria Continental, constituindo-se o primeiro trabalho publicitário realizado em “off-set”, elaborado nas oficinas da Globo.


Por essa época através de slogan a Cerveja Continental ficou conhecida como “a marca que por si se impõe”.


Parte da frota em 1940

Em 1941 a Cervejaria Continental, instalou um campo experimental de cevada em Encruzilhada do Sul, no Rio Grande do Sul.

A Cervejaria participava de muitas atividades relacionadas com a cidade de Porto Alegre, ainda em 1941 foi realizado o Campeonato da cidade de Bolão com a participação de 13 associações, sendo cada grupo composto de 10 homens, totalizando 130 competidores que disputaram, em conjunto, a taça Cervejaria Continental e a taça estímulo móvel Coronel Osvaldo Cordeiro de Farias.




Nota: Em 1944 a razão social era: Bopp, Sassen, Ritter & Cia Ltda e no final do ano de 1945 já havia passado para Cervejaria Continental S/A. Não encontrei documentação da alteração da razão social.

Em 5 de novembro de 1946, o então o maior grupo cervejeiro do Rio Grande do Sul, a Cervejaria Continental S/A, foi incorporado pela Cervejaria Brahma, com matriz no Rio de Janeiro, transformando-se na maior potência cervejeira nacional. A Cervejaria Brahma continua com as pesquisas do campo experimental de cevada em Encruzilhada do Sul.
A fábrica permaneceu em atividade até 1998, quando mudou-se para o Município de Viamão.

Desde 1979, o terreno ocupado pela Brahma foi incluído na delimitação da Área Funcional de Preservação Cultural e de Proteção da Paisagem Urbana, e os imóveis de nº 545, 691 e 695, que abrigam os antigos prédios da cervejaria, foram listados como edificações de interesse sócio-cultural para preservação, por seu mérito histórico, arquitetônico e paisagístico. Em 1999, o conjunto foi tombado pelo Município, compreendendo os prédios que abrigavam administração, departamento industrial, fabricação da cerveja , casa de máquinas, depósito de matérias primas e adegas, casa de caldeiras e chaminé, inscritos no Livro Tombo sob nº 58.

O conjunto foi comprado pelo grupo Correio do Povo, sendo administrado pela empresa Unicenter, sob empreendimento do grupo Porto Shop, que ali instalaram um shopping center.

O complexo foi ocupado por um bem sucedido shopping center, o Shoping Total com 457 lojas, administrado pelo Grupo Porto Shop, que realizou a transformação com um investimento de R$ 40 milhões, foram instalados nas dependências do complexo muitos espaços para serviços diversos, cultura e lazer. A visitação mensal média chega à marca de 550 mil pessoas. Foi inaugurado em 29 de maio de 2003, com 42 mil m² de área construída, 4 andares e um estacionamento para 7.200 carros.




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