Texto baseado no artigo: O auge das cervejas artesanais em Urussanga - Jornal Vanguarda - 29/06/2015
A 26 de maio de 1878, chegaram a Urussanga - SC, vindos de Longarone, Província de Beluno, Região de Veneza, os primeiros imigrantes italianos. Por essa razão, esta é a data oficial de fundação da cidade. A partir daí a população que viria habitar Urussanga, veio de diversas regiões da Itália, principalmente de Vêneto, Treviso, Veneza, Údine, Beluno, Mántua, Cremona, Bérgona e Trento. Saíram da Itália com o desejo e a esperança de uma vida melhor na nova terra. Urussanga prosperou, tornando-se passagem obrigatória para os imigrantes que se dirigiam para os novos núcleos coloniais de Santa Catarina. Em 3 de junho de 1891 foi criada a freguesia com a denominação de Urussanga, pelo decreto estadual nº 84, subordinado ao município de Tubarão. Foi elevado à categoria de vila e município com a denominação de Urussanga, pela lei estadual nº 474, de 6 de outubro de 1900, desmembrado de Tubarão. Em 1917, com a abertura das minas de carvão, a cidade entrou em novo estágio de desenvolvimento econômico.
Dentre esses italianos, chegados no fim do século XIX, estava a família do comerciante Giovanni (João) Damiani, sua esposa Lucia De Bona Marchet Damiani e seus filhos. Guardado por descendentes existe documentação e livros de registros do comércio de Giovanni Damiani, entre 1885 e 1893.
Giovanni Damiani foi proprietário da primeira casa comercial no município onde construiu uma casa, inaugurada no dia 8 de março de 1896, na parte central do município. Inicialmente, a edificação serviu como moradia da família e foi sede de um armazém, onde era vendido de tudo. Desde os diversos tipos de alimentos para os italianos, até vestimentas, tecidos e ferramentas. Atualmente uma das casas mais antigas e bem conservadas do município de Urussanga, assim pode ser considerada a residência.
Nessa época, o município não possuía nenhum tipo de hotel ou pensão. Devido a isso, e por Giovanni Damiani ter sido o primeiro juiz de paz da cidade, autoridades de toda a região se hospedavam na residência da família.
Giovanni Damiani, faleceu em 17 de abril de 1900 e deixou a esposa Lucia De Bona Marchet Damiani e 12 filhos. Lucia era uma mulher de garra e precisava sustentar os filhos, a época vivenciada entre 1910 e 1940 em Urussanga exigia independência e autossustento das famílias de imigrantes italianos mesmo após os 30 anos de fundação da cidade.
A família entristeceu-se muito, porém Lucia não se deixou abater pela situação. Terminou a obra que o marido havia iniciado, a de uma cervejaria chamada Lybia e em outubro de 1912, um livro de registro guardado, apresenta o início da cervejaria e as primeiras movimentações financeiras. “Naquele tempo não era fácil conseguir cerveja. Então fabricar a caseira artesanalmente era uma maneira de ter a bebida para o consumo próprio. Além disso, a Lucia conseguia utilizar o dinheiro para sustentar a família. O local da produção era em uma casa ao lado da Farmacentro, antiga residência de Iva Damiani”.
A fábrica se localizava ao lado da residência, e a cerveja era preta tipo Malzbier, vendida em todas as cidades da região.
Conforme registros, a cerveja denominada Lybia foi comercializada pela família Damian de 1912 a 1926 sob a responsabilidade de Lucia e do filho Damião Damian. A Lybia era bem conhecida. A garrafa era revestida com um cartucho feito de palha de arroz e trigo e as garrafas eram colocadas em uma caixa de madeira, dividida ao meio, cabendo duas dúzias. Para enviar para outra cidade a caixa era pregada e passava uma cinta de ferro.
Em março de 1927 o filho de Lúcia, Artemio era o responsável pela produção da cerveja, ele era casado com Seraphina Zanellato que era o seu braço direito. Conta Livia Damian Belloli, filha dos dois, que ela levantava à meia noite para ajudar o marido a fazer cerveja. Eles acendiam o fogo, acredito que para a fermentação, e que era um processo muito trabalhoso. Faziam cerveja preta e branca. Minha mãe contava que quando se casava tinha que viver de acordo com o marido, ser companheira. Meu pai perguntava para ela se ela estava precisando comprar algo naquele mês e quando minha mãe dizia que não precisava, ele logo dizia que ia usar o dinheiro para pagar a cevada à vista para ganhar uma saca de presente.
A última assinatura de Artemio Damian, no livro de registros, ocorreu em 30 de junho de 1929. Dias depois ele veio a falecer e a produção e a comercialização foi interrompida por 15 dias.
Em 15 de julho de 1929, Damião Damian, irmão de Artemio, começou a auxiliar Seraphina nos negócios. A exemplo da sogra Lucia, a viúva Seraphina cuidou de três filhos e tocou a cervejaria durante um curto período.
Em 15 de abril de 1930, outro irmão de Artemio, Viatore Damian, também ajudou Seraphina e passou a assinar o livro registro. A última anotação, feita em 31 de julho de 1930, foi assinada por Viatore. “O cunhado de minha mãe pegou a cervejaria e foi tocar. Depois, por volta de 1938, ele também vendeu para outra família. A cervejaria ficou fechada por muito tempo”, frisa. Livia Damian Belloli, Neta de Lucia De Bona Damian e filha de Artemio e Seraphina, ainda guarda um termômetro utilizado na cervejaria, também guarda um livro de registro da fábrica da avó com dados dos impostos a pagar e das vendas diárias.
Um comentário:
Giovanni Damian e Lúcia de Bona são meus trisavos, meu bisavó era Armede Damiani (Proprietário do primeiro açougue na cidade de Bituruna/PR), minha vó se chamava Lorena Damiani.
Se tiver alguem da familia vendo a mensagem, me conecte.
Meu email angelitangelita@bol.com.br
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