segunda-feira, 24 de outubro de 2016

fabrica de cerveja santa maria / Santa Maria & Ribeiro / Santa Maria, Freire & Pinto / Lima, Alves & Cia / Lima & Torres / Napoleão Lima & Cia


Texto baseado em vários jornais de época e principalmente do Jornal das Moças de 23/12/1926.
Imagem dos rótulos cedida pelo colecionador Paulo Antunes Júnior


Em 1881, João Pereira de Santa Maria que havia deixado a antiga Fábrica de Cerveja Minerva, na Rua do Sacramento (atual Av. Passos) nº 12, no Rio de Janeiro, se estabelece com botequim e fabricação de cerveja em um pequeno prédio da Rua Luiz de Camões nº 42.


Em 26 de novembro de 1881, é inaugurada a Fábrica de Cerveja Santa Maria, instalada na Rua da Carioca 130, a qual desde logo se impôs no conceito público.


NOTA:
Criada em 1697 a antiga Rua ou Caminho do Egito, teve esse nome porque lá existiu um oratório com a fuga da família sagrada para o Egito, em 1741 virou Rua do Piolho quando lá foi morar um procurador com esse apelido, pois era o mestre em procurar processos desaparecidos e posteriormente, em sessão de 24 de outubro de 1848, Rua da Carioca que recebeu esse nome por deliberação da Câmara Municipal, pois era o caminho que se usava para buscar água no chafariz da Carioca.
O nome perdura até os dias de hoje apesar das tentativas de alterá-lo. Assim é que em 14 de agosto de 1879 a Câmara denominou-a de Rua de São Francisco da Penitência, que não foi aprovado pelo Governo Imperial. Em 14 de agosto de 1882 a Câmara tentou novamente mudar o nome, desta vez para Rua de São Francisco de Assis, com a aprovação do Ministério do Império, em homenagem ao sétimo centenário de nascimento do santo ocorrido em outubro de 1881. A Intendência Municipal deliberou em 28 de janeiro de 1892 pela volta do antigo nome de Rua da Carioca, o que foi confirmado pelo Decreto Municipal de 28 de março de 1898, em 1904 foi alargada, com a derrubada dos prédios do lado da numeração par, na administração do prefeito Pereira Passos, Em 1918 mudou para Rua Presidente Wilson e 1919 retornou a ter o nome da Rua da Carioca.
Estas alterações de nome criaram uma barafunda ao longo do tempo, motivadas por hábito de uso dos nomes, principalmente nas documentações.

Em fevereiro de 1882, João Pereira de Santa Maria, no intuito de poder dar maior expansão ao desenvolvimento da fábrica fez um contrato admitindo, como sócio, o sr. Manoel Pereira Ribeiro, sob a firma Santa Maria & Ribeiro com o capital de Rs 14:000$000 (quatorze contos de réis).


Em 13 de janeiro de 1883 o Jornal do Comercio publica o distrato social entre João Pereira de Santa Maria e Manoel Pereira Ribeiro.


Em 1885, novo contrato social, foram admitidos como sócios, os senhores Justino de Oliveira e Joaquim Pinto de Azevedo, sob a firma Santa Maria, Freire & Pinto, com o capital de Rs 16:000$000 (dezesseis contos de réis).


Essa sociedade só durou até 31 de janeiro de 1888 quando foi dissolvida.


Em 2 de março de 1889, o Jornal do Comércio publica o anuncio que foi feito um contrato social, com data de 1º de março, entre João Pereira de Santa Maria (sócio comanditário) e seus dois antigos empregados na fábrica: Napoleão Ferreira da Silva Lima e Antonio José Alves, com o capital de Rs 8:100$000 (oito mil e cem contos de réis), sendo Rs 2:700$000 do comanditário, sob a firma Lima, Alves & Cia.


Em 1891, retirou-se definitivamente o sócio fundador, o sr. João Pereira de Santa Maria, época em que também saiu o sócio Antonio José Alves, que foi montar a fábrica Olinda na Rua do Espírito Santo.

Em 1895, Napoleão F. da Silva Lima associou-se então a Custodio Gomes Dias Torres, sob a firma Lima & Torres.

Em 1898, a cervejaria já ocupava três prédios de números: 130 a 134 da Rua da Carioca e oferecendo três salões, separados, cada um com cerca de 20 mesas de mármore capazes de conter 800 pessoas, nos fundos desses prédios está instalada a fábrica propriamente dita. Nos pavimentos superiores os tanques de resfriamento e cubas. As caldeiras estão de forma a não prejudicar o fabrico e cercadas de cuidados para não ocasionarem incêndios. A fábrica tem um grande número de empregados e está apta a mandar para o consumo cerca de 25.000 garrafas por dia.

Em 1900, com a saída do sócio Custodio Gomes Dias Torres terminou a sociedade e Napoleão F. da Silva Lima passou a administrar sozinho toda a cervejaria.

Em 29 de janeiro de 1903, a Fábrica de Cerveja Santa Maria, de Napoleão F. da Silva, estabelecida à Rua da Carioca, 130, renova o registro de suas cervejas Branca e preta sob o nº 3598 de Junta Comercial do Rio de Janeiro, publicado no Diário Oficial da União de 05 de fevereiro de 1903

Por muitas modificações tem passado a Fábrica Santa Maria, todas tendendo a aumentar a capacidade da fábrica, aprimorar o produto ou oferecer maior conforto ao público, mas nenhuma foi tão radical como a reforma que acaba de passar, onde foi demolido o prédio para o alargamento da Rua da Carioca, onde todos os imóveis do lado par foram destruídos. Após o sr. Napoleão F. da Silva Lima comprar o local da fábrica, ali foi erguida a nova fachada de arquitetura sóbria mas de linhas suaves e elegantes, projeto traçado pelo sr. Carlos Milanez e executado pelo sr. Miguel Bruno. Com as obras prontas e nova numeração na rua, agora de 72 a 76, foi reinaugurada a cervejaria e o seu salão de bilhares (Luzo Bilhares)em 8 de setembro de 1906.

    

Em 1º de janeiro de 1907, Napoleão F. da Silva Lima formou nova sociedade, admitindo os seus antigos empregados Abel F. da Silva Lima, Francisco Pinto Mascarenhas, José F. da Silva Lima e Miguel Pinto Monteiro, sob a firma Napoleão Lima & cia, sociedade que foi se extinguindo com a saída de uns e morte de outros.

Publicado no Jornal do Brasil de 9 de julho de 1910, a liquidação da sociedade Napoleão Lima & Cia, decretada em função do falecimento, em abril, do sócio Abel Ferreira da Silva Lima.

    

Em 5 de fevereiro de 1911, faleceu João Pereira de Santa Maria, o fundador.

Na sessão de 13 de julho 1911, da Junta Comercial, foi registrado um novo contrato entre Napoleão Ferreira da Silva Lima, José Ferreira da Silva Lima Sobrinho e Dª Margarida de Lima para o comércio e fabrico de cerveja à Rua da Carioca, nº 72, 74 e 76, com o capital de Rs 60:000$000, sob a firma Napoleão Lima & Cia.


Em 1914, Napoleão F. da Silva Lima querendo afastar-se completamente do negócio, em vista de seu precário estado de saúde, chamou o seu sobrinho Napoleão José Malheiro, que passou a adotar o nome de Napoleão Lima Malheiro, e, sabendo-o trabalhador e competente, associou-o com o seu já sócio e também sobrinho José F. da Silva Lima, retirando-se definitivamente.


Em 23 de março de 1917, o jornal O Paiz, publica, que foi registrado o contrato social entre os sócios solidários Napoleão Lima Malheiro e José Ferreira da Silva Lima, para o fabrico de cerveja com o capital de Rs 100:000$000, à Rua da Carioca 72, 74 e 76.


A despeito dos maiores esforços, lutando com grandes dificuldades, algumas das quais em consequência da Grande Guerra, que a tudo e a todos atingiu, os novos sócios apenas conseguiram não comprometer o prestígio de que a fábrica sempre gozou e o caráter e probidade de suas próprias pessoas. Em 1920, o sócio José F. da Silva Lima partiu para a Europa, em busca de melhor saúde e tão precário era seu estado que logo em seguida, em junho de 1921, faleceu.


Ficou desde então à testa da gerencia o sócio Napoleão Lima Malheiro, o qual, após a liquidação, deu sociedade à sua irmã D. Jeronyma da Silva Lima, viúva do sócio falecido.


Essa sociedade foi de curtissima duração


O Sr. Napoleão é de um espírito modernista, empreendedor, assim, não é surpresa a transformação, quase completa, que se operou na Fábrica de Cerveja Santa Maria logo após ser ele investido da sua administração. Tratou logo com pessoa entendida a aquisição, na Alemanha, de todos os maquinismos mais aperfeiçoados no gênero e que foram armados e postos em funcionamento pelos próprios mecânicos que com eles aqui chegaram.

Com esses maquinismos e com as vantagens advindas para o fabrico da cerveja, ao contrário de outrora, em que o trabalho, era todo manual, exigia avultado número de braços para uma produção mínima, pois insuficiente, sem falar em muitos outros inconvenientes, hoje, graças à radical transformação, o fabrico, como exige o formidável consumo, é três vezes maior que anteriormente, e, por assim dizer, quase sem esforço. Além disso, sendo o serviço assim feito, á mais precisão e regularidade na produção, absoluto asseio e completa segurança.

    

Assim aparelhada, a Fábrica Santa Maria só deste modo consegue a produção necessária para atender ao consumo, cada vez maior, pois esta Cervejaria, tão inteligentemente administrada, cada vez merece mais a confiança e a preferencia do público, que, não só no amplo e confortável salão-bar existente na própria fábrica, como em toda a parte, presta com sua preferencia à excelente bebida merecida compensação aos proprietários de uma fábrica modelar, que é digna do apoio do público e da admiração dos entendidos. A Fábrica Santa Maria mantem, no 1º andar, um amplo e aprazível salão de bilhares, o qual, administrado pelos criteriosos dirigentes da fábrica, de há muito se tornou o ponto predileto dos apreciadores desse agradável e proveitoso divertimento. Montado com capricho e servido por pessoal competente e dedicado, esse centro de diversão é hoje um dos melhores que existem nesta Capital.

Em 1929 , O Correio da manhã publica novo contrato ente Napoleão de Lima Malheiro e José Marques.


Não sei em que época essa sociedade foi extinta, mas em 1940 foi feita uma sociedade entre várias pessoas, entre elas o sr. Napoleão de Lima malheiro, para um comércio e fábrica de cerveja sob a firma Sociedade de Bebidas Carioca Ltda., com endereço à Rua Campos da Paz 101, onde desde 1937 já estava estabelecida a Fábrica Santa Maria.

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