sexta-feira, 22 de abril de 2011

Fábrica de Cerveja João Leitner / João Leitner & Filhos / J. Leitner & Irmão / Luiz Leitner & Cia / Tivoli / Cervejaria Cruzeiro / Viuva Luiz Leitner & Filhos


João Leitner, imigrante oriundo do Tirol austríaco, homem afável e alegre e que tocava muito bem a cítara e o violão, chegou ao Brasil em 1866 com cerca de 30 anos de idade, indo morar inicialmente na Colônia Dona Francisca, em Joinville - SC, onde casou com Marie Lenkt e nasceu seu primeiro filho.

Por volta de 1868 se mudou para Curitiba – PR, onde nasceram seus outros filhos; Júlio, Edwiges, Guilhermina, Marie, Carlotte, Nestor e Jorge.

Logo se instalou e já em 17 de abril de 1869, o jornal "O Dezenove de Dezembro" anunciava: “Vinagre superior. Vende-se em casa do cervejeiro João Leitner, na Rua das Flores (Quinze de Novembro)”.
Esta foto de 1870 mostra a Rua das Flores, a principal de Curitiba. O espaço fotografado está compreendido, hoje, entre as ruas Monsenhor Celso e Barão do Rio Branco.

Convém traçar, a situação e o aspecto da cidade de Curitiba em 1870, no espaço fechado pelo quadrado formado pela Rua das Flores, Riachuelo, do Comércio e Barão do Rio Branco com Deodoro e Garibaldi, havia apenas quatro casas, de frente para a Rua das Flores e de fundo para a Rua do Comércio. Todas essas casas pertenciam ao Dr. Laurindo, proprietário da vila do Portão. Os jardins, na realidade os pátios das casas cobertos de grama, estendiam-se até os campos úmidos, onde o gado pastava. A uma certa distância dali, na direção sul, estendia-se um espaço completamente vazio, sem nenhuma casa edificada, que alcançava as gargantas do Rio Iguaçu. A alguns metros a sudeste, via-se no meio do mato uma usina de erva-mate, pertencente a um tal Bittencourt. Mais uma outra, propriedade do cidadão Munhoz, encontrava-se ao pé da elevação Alto da Glória, onde também erguia-se o suntuoso e belo edifício do cidadão Fontana. Todos esses moinhos, fábricas, eram acionados pela força das águas do rio Belém. Os jardins e as praças da atual rua Riachuelo e do Passeio Público eram naqueles tempos prados vazios e pântanos, que de vêz em quando eram alagados pelo rio Belém. Um dos cantos desse quadrado de ruas, que traçamos acima, era usado como depósito de cinza. Tratava-se de uma idéia de Leitner, que dessa forma conseguiu secar o terreno e construir nele o hotel. Na Rua das Flores havia já uma casa de pavimentos, propriedade do comerciante José Nabo. O outro edifício de pavimentos era o palácio presidencial. No ponto onde hoje a Rua Quinze de Novembro cruza com a Rua Dr. Murici (antiga Rua da Assembléia), a Rua das Flores estava separada por uma cerca. Se se quisesse ir adiante, era preciso voltar, dirigir-se pela Praça Zacarias e pela Rua Aquidaban, aí desviar o pântano, para finalmente sair nos vistosos Campos Gerais, como eram denominados pelos arrieiros de tropas de carga, que traziam para a cidade diversas mercadorias do interior do Estado.
As ruas principais de Curitiba eram então: Aquidaban, das Flores, do Comércio, da Assembléia, do Rosário, São Francisco e Riachuelo. Das praças podemos citar a Praça Zacarias, da Matriz, Alto São Francisco e a Praça Dezenove de Dezembro. Poucos eram também, na Curitiba daquela época, os edifícios públicos: a administração municipal com a cadeia na parte interna, o edifício do Banco Inglês, adiante o quartel da polícia e a Coletoria. O Correio e a Presidência do Estado encontravam-se em edifícios particulares. Havia ainda a igreja matriz, na praça do mesmo nome, bem como as capelas: da Ordem, Rosário e São Francisco. Além disso, num canto da confluência de ruas acima descrita, encontrava-se a igreja dos protestantes, que se localizava numa casa alugada do Dr.Laurindo. Feiras não muito movimentadas realizavam-se na pracinha Zacarias. As poucas casas de comércio encontravam-se em mãos dos portugueses: José Nabo, Rodrigues, Vidal, Viana. Algumas lojas francesas, como Belache e Mostart, completavam o panorama da capital paranaense daquela época.
Convém frisar que além das lojas citadas não havia outras em Curitiba, nem em mãos de franceses, alemães ou representantes de outras nacionalidades, nem tampouco em mãos de brasileiros.

Em 1870, Leitner começou a construir a sua residência e a sua primeira cervejaria, obra que ficou a cargo dos carpinteiros e construtores Christian August e Gustav Hermann Strobel, pai e filho, na Rua Barão do Rio Branco com Quinze de Novembro, local onde mais tarde foi construído o "Grande Hotel".


Grande Hotel Leitner
Em Pouco tempo terminou a construção, sendo então instalada e inaugurada a Fábrica de Cerveja Tivoli de João Leitner com o inicio da fabricação de sua cerveja. No início ele fazia dois tipos de cerveja: a simples, que custava duzentos réis, e a dupla, por quatrocentos réis a garrafa. O tipo mais consumido era a simples. A aceitação foi muito boa forçando-o em breve a aumentar a capacidade de produção.

Conhecido pela grande visão comercial e preocupação com os problemas econômicos que possuía. João Leitner fundou a cervejaria e um hotel na cidade, e chegou a organizar um transporte de Curitiba a Antonina. Adquiriu a região do Atuba que nesta época pertencia ainda ao município de Colombo.

Em 01/03/1873, o jornal "O Dezenove de Dezembro", pag. 4, anunciou a pensão de João Leitner: "Alugam-se três quartos com suas competentes alcova, em casa do cervejeiro João Leitner podendo os alugadores tomar sua alimentação do mesmo dono da casa".

Em 29 de abril de 1874, o jornal "O Dezenove de Dezembro", anunciou que no Hotel Leitner acaba de chegar um grande e variado sortimento de armarinhos e modas, o que há de maior.

Em 13 de junho de 1874, no jornal "O Dezenove de Dezembro", torna a aparecer João Leitner, agora como chaveiro, eis o anúncio: "Chapas americanas para marcar vestidos, roupa de cama, guardanapos, louças, meias e todo o gênero de roupas. Como também cartões de visita, livros, envelopes e toda a qualidade de papéis. Argolas Americanas para chaves, são feitas de prata allemã e não são sujeitas a enferrujar, quebrar, como as argolas de aço, são muito fortes e bonitas".

Em 12 de agosto de 1882, o jonal "O Dezenove de Dezembro" na página 4, torna a trazer um anúncio do Hotel Central de Leitner, desta vez para anunciar sua venda para Frederico Mostaerd e comunicar também que além de estar localizado em ótima posição central nele se encontra comodos próprios para famílias.

Até esta época a cerveja ainda era relativamente desconhecida e apenas se fazia alguma cerveja caseira, geralmente a base de milho. Já se importava cerveja européia, mas ela era inacessível para a maioria, pois uma garrafa custava um mil réis, sendo um luxo o seu consumo.

Como a produção de cerveja revelou-se um ótimo negócio, em pouco tempo surgiram outras cervejarias. Assim surgiram as de Johnscher, Mensing, Weigang, Schulze, Fleischmann, Engelhart, Bengson, Iwersen e nos últimos anos ainda diversas outras, não contando as dos arredores de Curitiba.

Conhecido pela grande visão comercial e preocupação com os problemas econômicos que possuía. João Leitner além de fundar uma cervejaria e um hotel na cidade, chegou a organizar um transporte de Curitiba a Antonina. Adquiriu a região do Atuba que nesta época pertencia ainda ao município de Colombo.

Em 4 de julho de 1888 a fábrica de cerveja de João Leitner, altera sua razão social passando a ser João Leitner & Filhos (e outros).

Em 1891 João Leitner vem a falecer, passando a fabrica para a responsabilidade de seus filhos Luiz e Julio.

Em 30 de janeiro de 1902, o jornal A Republica publica o comunicado que Julio e Luiz organizaram uma sociedade sob a razão social de J. leitner & Irmão para o fabrico de cerveja, vinagre e etc. por atacado e varejo.

Em 7 de abril de 1902, o jornal A república, publica a falência da fábrica de cerveja de Jonscher & Irmão no Batel, por dificuldades financeiras.
A Cervejaria posta em leilão em 19 de maio de 1903 e avaliada em Rs 90:000$000, não teve comprador, foi posta novamente em leilão e avaliada em Rs 85:500$000 e também não conseguiu ser vendida e finalmente em 27 de maio, avaliada em Rs 76:950$000, foi arrematada pelos irmãos Julio e Luiz Leitner que fazem grandes investimentos, aplicando vários melhoramentos, especialmente em maquinaria

Em 21 de abril de 1904, o Jornal A Republica publica o anuncio que acaba de ser instalada a Fábrica de Cerveja Tivoli no Batel, a antiga fábrica, na Rua Marechal Deodoro, passa a abrigar somente a administração e depósito. Dois meses após, em anúncio do dia 17 de junho no mesmo jornal, é publicada a alteração de seu nome para Fábrica de Cerveja Cruzeiro, esta indústria rapidamente ganhou gosto popular, fazendo com que suas marcas logo se tornassem as preferidas da época. Produziu inúmeras marcas de cerveja brancas e pretas sendo a marca mais famosa a Cerveja Pomba, foi também o precursor, no Paraná, da fabricação de cerveja de baixa fermentação.
  


Em 15 de abril de 1909, Julio Leitner faleceu e sua viúva, Adelina Leitner, em sociedade com Luiz assumem a direção da fábrica.

Em novembro de 1911, Adelina se retira da sociedade e Luiz passa a ser responsável por toda a empresa.

  


    


No Batel estavam as duas mais importantes fábricas de cervejas: a Cervejaria Providência e esta cervejaria de Leitner, ambas possuíam bosques, onde se realizavam festas particulares, o parque da cervejaria Leitner, o famoso Parque Cruzeiro, localizado na antiga Avenida Siqueira Campos, hoje Avenida Batel, proporcionava à população espaço para o saudável hábito da ginástica.

Propaganda publicada na Gazeta do Povo em edição de setembro de 1922 da Cervejaria Cruzeiro de Luiz Leitner, cuja fábrica localizava-se, à época, na Avenida Batel números 56 a 62, e cujo telefone de contato era 382. O escritório e o depósito da cervejaria era nas esquinas da Rua Rio Branco com a Avenida Marechal Deodoro, e cujo telefone era 392, Caixa Postal 180, em Curitiba, Paraná. A foto da propaganda mostra umas das adegas da Cervejaria Cruzeiro. O texto do anúncio é o que se segue: "Aos verdadeiros apreciadores e consumidores de boa cerveja a Cervejaria Cruzeiro recomenda as suas excelentes e preferidas marcas: Cruzeiro (Tipo Pilsen), Pomba, Cruzeiro Escura (meia garrafa) e Cometa (escura). O CHOPS CRUZEIRO, graças às suas excelentes qualidades e sabor inconfundível é ainda o mais preferido". Este documento está exposto na Casa da Memória da cidade da Lapa. Formato retrato, colorida.
  


Em 22 de março de 1929, a Cervejaria Cruzeiro, agora sob a responsabilidade da firma Viuva Luiz Leitner & Filhos pede renovação do registro da Cerveja Pomba.


Frederico Leitner, nascido em 11 de outubro de 1901 e falecido em 15 de setembro de 1988, neto de João Leitner e filho de Luiz Leitner e de Anna Hauer Leitner. Conhecidíssimo na sociedade curitibana como "FRITZ LEITNER", marcou sua vida na Capital do Paraná pela sua honradez, solidariedade e pela sua marcante atuação junto a comunidade empresarial e esportiva de Curitiba.

Um dos pioneiros na área de fabricação e comercialização de cerveja do sul do país, Frederico Leitner foi junto com seu pai, proprietário da Cervejaria Cruzeiro.

Mais antiga, inaugurada ainda no século XIX, a Cervejaria Cruzeiro possuía um bar, onde eram degustados seus produtos. Esse bar preservou suas características através de décadas, até desaparecer em meados de 1980. Nos fundos, existiam dois barracões, e num deles funcionou talvez o primeiro clube de bolicheiros da cidade: o Batel Boliche Clube. No outro barracão, estava instalada a churrascaria Cruzeiro, onde, além do filé, era servida uma das mais apreciadas iguarias: a famosa costela de ripa, sempre acompanhada de saladas, a de batatas foi a mais famosa que existiu em Curitiba.

Em 1940, com este sucesso obtido ao longo dos anos fez com que a já poderosa companhia Cervejaria Brahma fizesse proposta irrecusável para a compra total da Cervejaria Cruzeiro. Na negociação, a experiência e o seu conhecimento levaram Frederico Leitner a assumir uma das diretorias técnicas da Brahma, onde trabalhou por mais de trinta anos.
Foto da década de 1920, Cervejaria Cruzeiro no Bairro do batel, como todas as indústrias de curitiba e mesmo os fogões quer caseiros, quer industriais utilizavam a lenha como o único combustível existente.

Um comentário:

Rauk Guilherme Urban - Jornalista disse...

A memória histórica urbana, a partir da profunda e sempre necessária pesquisa, é fundamental para que uma cidade e sua população aprendam mais e mais sobre si mesmos. Como jornalista voltado a essa área, penso ser fundamental dar seguimento a esse trabalho de peso. Autor de "Curitiba: Lares & Bares", conto a história da boêmia curitibana, de 1850 à década de 1970; também disponível nas bibliotecas "Pelos Bares do Paraná", coeditado em parceria com o também jornalista Norberto Stviski, além da coletânea poética "Cabelços Molhados ao Sul de Abril" (trabalho meu de 2010), bem como "História do Transporte Coletivo de Curitiba" (2004). Louve-se quem faz da lembrnça da História o pontomagno da lembrança urbana. Raul Guilherme Urban.

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