Nas atividades industriais exercidas pelos alemães, merece destaque o fabrico de cerveja. Muitas fábricas de importância regional foram instaladas e posteriormente absorvidas pelas grandes indústrias de São Paulo ou do Rio de Janeiro. Entre tais cervejarias destacou-se principalmente a Cervejaria Adriática em Ponta Grossa, Estado do Paraná.
No final do século XIX, o alemão Heinrich (Henrique) Thielen, natural da Alemanha, chegou ao Paraná com 9 anos de idade, indo residir com sua família no litoral do Estado, mais precisamente nos arredores da cidade de Morretes, sobrevivendo da lavoura. Pouco tempo depois mudou para Curitiba e posteriormente radicou-se em Ponta Grossa. Seu nome está indissociavelmente ligado ao da Cervejaria Adriática, um dos maiores símbolos da identidade ponta-grossense.
Em 1893 a Cervejaria Grossel abre uma filial, na Rua do Chafariz (atual Avenida Vicente Machado), em Ponta Grossa.
Aos quinze anos de idade, Henrique empregou-se na fábrica de cerveja que era na verdade a dona do capital investido na fundação da Cervejaria Adriática. Por volta de 1896 e somente depois de instalada a indústria em Ponta Grossa é que Henrique Thielen, seu primeiro administrador passa a dirigir a fábrica, tornando-se sócio e mais tarde, seu proprietário, alterando, em 1906, o nome para Fábrica Adriática de Cervejas de Henrique Thielen, nesta época produzia e vendia cerveja, gelo, águas minerais e malte.
A constante ampliação dos mercados fez com que Thielen trouxesse da Alemanha, no final da década de 1910, novos equipamentos com capacidade de produzir ate 30.000 hectolitros/ano de cervejas, gasosas e agua mineral.
Desde sua fundação ate o ano de 1911 a Adriática somente produzia duas qualidades de cerveja, uma clara e outra escura, ambas em alta fermentação. A partir desse ano, Thielen diversificou a produção, e começou a fabricar cerveja com baixa fermentação, instalando maquinas que produziam anualmente 6.000 hectolitros da bebida. A qualidade das cervejas da Adriática garantiu a Thielen uma grande inserção nos mercados do Paraná, São Paulo e Santa Catarina. Além desses, diversos outros estados brasileiros, bem como diversos países europeus, eram abastecidos com os produtos da indústria comandada por Henrique Thielen.
Na fábrica foram elaboradas técnicas de produção de gelo e de águas minerais, cujas marcas “Soda Limonada”, “Framboeza”, “Salus” e “Gengibirra” conquistaram o gosto dos consumidores da época.
Pretendendo ampliar ainda mais seus negócios e melhorar a quantidade da cerveja que produzia, Henrique Thielen solicita durante governo do prefeito José Bonifácio Guimarães Vilela licença para a construção da grande fábrica de cerveja Adriática, na Avenida Vicente Machado.
Em 1913 encaminha seu filho Alberto para a Alemanha, com objetivo de aprimorar a técnica de cervejeiro. Este permaneceu na Europa entre 1913 e 1919.
Em 9 de agosto de 1913 registra a Cerveja Brilhante sob o nº 1157 da Junta Comercial do Estado do paraná.
Em 22 de dezembro de 1918 registra a Cerveja Adriática sob o nº 1467 da Junta Comercial do Estado do paraná.
Em 1919 Alberto retorna à Ponta Grossa, assumindo a condição de sócio da indústria do pai, criando a Companhia Cervejaria Adriática S/A, transformando em sociedade anônima a já existente Cervejaria Adriática, antiga fábrica de cerveja de seu pai, Henrique Thielen.
A Companhia Cervejaria Adriática S/A foi constituída em 2 de julho de 1919, tendo sido publicados os atos de sua constituição no Diário Oficial, do Paraná, de 11 de agosto do mesmo ano, dotando-a assim de um maior poder econômico e, conseqüentemente, garantindo a expansão de suas atividades. Quando isso ocorreu, a área física ocupada pela indústria era de 3.500 metros quadrados. Cerca de 120 operários trabalhavam na Adriática, todos protegidos por seguro da Companhia Lloyd Industrial Sul Americano, uma raridade para aquela época. Essa particularidade condiz não exclusivamente com uma preocupação com os operários da fábrica, mas também com um olhar visionário da indústria. Pensando que qualquer debilidade física do operário cervejeiro acarretaria num tempo contado de prejuízo para a fábrica, um auxílio a qualquer tipo de dano que condicionaria na paralisação das funções do indivíduo na fábrica se transforma, nesse caso, numa circunstância de seguro para a produção da fábrica e não simples e unicamente uma forma de proporcionar segurança ao proletariado da empresa.
Em 1921 é anunciado no jornal: A Companhia Cervejaria Adriática S/A ("palácio do néctar espumante"), à frente o dinâmico cel. Henrique Thielen, joga no mercado quinze mil dúzias de "Adriática Pilsen, Adriática Poschorr, Operária, Primor" e a muito afamada "Cachorrinha", todas "leves e límpidas no seu amarello-topázio".
Por tudo isso a Adriática tornou-se o maior símbolo da industrialização ponta-grossense. Devido a relevância da indústria, Thielen ingressou na política. Foi nomeado Coronel da Guarda Nacional pelo Governo Federal e escolhido como Presidente de Honra do Centro Commercio e Indústria de Ponta Grossa (antecessor da ACIPG), quando da fundação dessa entidade em 18 de junho de 1922. Assim, Henrique Thielen se configura como um dos pioneiros do processo de industrialização em Ponta Grossa e um dos grandes responsáveis pelo desenvolvimento economico da cidade.
Henrique Thielen destacou-se como empresário e político. Eleito vereador várias vezes, exerceu a função de prefeito como substituto do titular. Foi também, a partir de 1926, cônsul da Áustria durante alguns anos.
O novo edifício da Companhia Cervejaria Adriática, na Rua Vicente Machado, é inaugurado em 1923.
O Diário Oficial da União publicou no dia 02 de fevereiro de 1923 a relação dos premiados na Exposição Internacional do Centenário da Independência na qual constava a Cervejaria Adriática como tendo recebido medalha de ouro.
Após algum tempo, por volta de 1926, Alberto Thielen constrói a sua residência, a mansão Villa Hilda, título dado em homenagem à sua espôsa, Ida Hilda Schust, com a qual havia casado em 1920 e tiveram dois filhos: Alberto Henrique e Rodolpho Francisco. O imóvel localizado à Rua Júlia Wanderley, esquina com a Rua Cel. Dulcídio, possui arquitetura francesa, com dois pavimentos e mirante, sendo que as paredes internas foram pintadas com paisagens européias pelo artista Paulo Wagner. A casa simbolizava a prosperidade dos Thielen, um novo estilo, um novo espaço urbano, afastado das residências das famílias tradicionais, situadas no alto da colina. A residência foi comprada pela Prefeitura na década de 70, para abrigar a Biblioteca Municipal. Hoje a mansão abriga a Fundação de Cultura e apresenta esporádicamente exposições itinerantes.
Em 1928 a Companhia Cervejaria Adriática, começa a fabricar refrigerantes e engarrafar água mineral.
Em 02 de dezembro de 1931 registra sob os nº 21911 e 21912 as cervejas Original e paranista, a Original logo passa a ser sua principal marca e em 19 de dezembro deste mesmo ano registra a Cerveja Real Pilsen sob o nº 22095.
Em 11 de maio de 1932 renova os registros das cervejas: Brilhante, Adriática Bock, Operária, Primor e Adriática Especial (Cachorrinha) sob os nº 23389 a 233939 da JCPR e em 20 de julho de 1934 registra sob o nº 31537, a Cerveja Brasilense.
Em 1941 a Companhia Cervejaria Adriática, passa a ser controlada pela Cervejaria Antarctica e em 1943 é completado o processo de incorporação.
Em 1973, por causa do processo de descentralização na Antarctica é criada a Companhia Sulina de Bebidas Antarctica da qual fazem parte as unidades de Joinville em Santa Catarina e as unidades de Ponta Grossa e Curitiba no Paraná .
No ano de 1992. A unidade de Ponta Grossa deixa de operar definitivamente.
A demolição do prédio aconteceu aos poucos e terminou em 2005, para dar lugar a um novo empreendimento.
7 comentários:
Triste termos perdido um dos principais simbolos da industrialização em nossa cidade.
Consegue mandar as imagens desse post em melhor resolução no meu e-mail... Sou de PG e quero guardar essas recordações... crs_utfpr@hotmail.com
Olá, você conseguiria enviar as imagens em melhor resolução para meu email?
Obrigado
paulo@artcontrast.com.br
Pode mandar essas imagens por e-mail ? leonardotota@gmail.com
Ótimo artigo! Sou pontagrossense, fui ate o local onde hoje é vendida a Adriatica(Botequim Original na rua 15) mas a remessa já tinha acabado... até minha namorada que não curte muito cerveja está ansiosa por experimentar a tradicional Adriatica! o jeito é esperar a próxima remessa....
Passados quase trinta anos de minha visita a serviço na chamada Filial Adriática , em 1988 , parabenizamos a todos na cidade de Ponta Grossa pela inauguração da nova cervejaria , pela hoje Ambev. Ótimas lembranças daquele pessoal técnico , tais como Werner Ballentin mestre cervejeiro e Belmácio Mesiter mestre de manutenção , que foram decisivos para que a marca da cerveja Original se mantenha no topo em preferencia e qualidade .
Na realidade, o encerramento da unidade de Ponta Grossa da Companhia Sulina de Bebidas Antarctica, deu-se no final do ano de 1993. Trabalhei na unidade de Ponta Grossa desde o ano de 1968 até a data de 30 de junho de 1993, onde desempenhei várias funções, terminando como Contador e Procurador.
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