Baseado no texto de Maria Cristina Dias, publicado em Notícias do Dia
A Colônia Dona Francisca ainda estava sendo estruturada e as primeiras cervejarias já começavam a produzir a bebida, que passaria a integrar o dia a dia da comunidade nos momentos de alegria, confraternização, e por que não? – de tristeza.
O imigrante Alfred Tiede (Alfredo), de profissão cervejeiro, nascido em 24 de outubro de 1854, em Thurn, na Suiça, filho de Christian Friedrich Tiede e Mathilde Braun Tiede (que viúva, também imigrou para a Joinville), chegou à Colônia Dona Francisca em 1881, aos 27 anos e ainda solteiro.
Logo casou com Karoline Mathilde, a Lilly, nascida Brand em 1857, que havia chegado com sua família, em outro navio, no mesmo ano de 1881. Disposto a começar uma nova vida escolheu como local desse recomeço um lote de 5,50 morgos (equivalente a 2.400 metros quadrados) na então Mittelweg ou Caminho do Meio, atual Rua XV de Novembro, curiosamente o local onde a princípio os imigrantes suíços se concentraram.
Algum tempo depois, juntamente com Carl Beyerstedt, outro imigrante e cervejeiro radicado na Colônia Itajahy (atual Brusque) casado com Charlotte von Lasperg, fundou a cervejaria Tiede & Beyerstedt que durou pouco tempo.
Carl Beysterdt, havia sido premiado em 30 de setembro de 1875 com a medalha de bronze (2º lugar) na 4ª Exposição de Produtos Agrícolas e Manufaturas das Colônias Itajahy e Príncipe Dom Pedro.
A partir de 1888, fundou a Cervejaria Tiede, que também fabricava gasosas, licores e até xaropes de frutas, as primeiras garrafas produzidas na Cervejaria Tiede começaram a chegar na mesa dos consumidores ainda em janeiro de 1889.
A abertura oficial do novo empreendimento foi no primeiro dia do ano e na edição de 9 de janeiro de 1889, o jornal “Reform”, de circulação local, publicava uma nota informando a comunidade: “O proprietário de cervejaria, sr. Alfred Tiede, que até este momento era sócio da firma Cervejaria Tiede & Beyerstedt, recentemente fechada, abriu a sua própria cervejaria, a qual também administra, no dia 1º de janeiro, sob a denominação de “Alfred Tiede”, segundo tradução da pesquisadora Brigitte Brandenburg.
Tiede apostou na crítica dos jornais e enviou para o editor, “como amostra”, 25 garrafas de sua produção. O resultado foi a nota que visava atrair mais clientes: “Julgamos que a amostra que nos foi enviada apresenta um gosto forte em uma cerveja muito clara e de bom encorpamento, que nós consumidores de cerveja desejamos. É uma cerveja que está acima das melhores cervejas aqui criadas, e que pode colocá-las em segundo lugar”, aproveitando para salientar o preço do produto, considerado bom para a época. “Se o sr. A. Tiede mantiver-se fiel a este princípio, e fermentar a sua cerveja na mesma qualidade com o qual nos enviou, não faltarão encomendas”, assinalava a resenha publicada no jornal.
Alfred Tiede morreu de câncer em 14 de junho de 1904, aos 50 anos, e não deixou filhos. Ele e Lilly tiveram apenas uma criança que também já havia falecido. O casal, havia adotado um sobrinho que tinha o mesmo nome do tio: Alfred Tiede, a coincidência de nomes cria certa confusão, o sobrinho era Alfred Carl Tiede (Alfredo Tiede), nascido em 1893, e filho de Rudolf Baade e Marie Tiede. As informações constam no Kolonie Zeitung, em nota que comunica seu casamento com Gertrud Bennack, em 1917, e foram traduzidas por Brigitte Brandenburg.
A Cervejaria de Alfred Tiede recebeu a medalha de segunda classe da Exposição de Agricultura Indústria e Artes, feita pela Sociedade Catarinense de Agricultura em 1905, pelas cervejas Porter, Kulmbach e Clara e medalha de terceira classe para a sua cerveja simples.
Medalha premial de segunda classe da Exposição de Agricultura Indústria e Artes
Após a morte do marido, Lilly Tiede a princípio assumiu os negócios da família. Rótulos da primeira década do século 20 mostram o novo nome da empresa: “Vª de A. Tiede” (Viúva de Alfred Tiede).
Por volta de 1915, o sobrinho Alfredo Tiede assumiu os negócios da mãe adotiva. A firma passou a aparecer nos rótulos como “Alfredo Tiede & Cia" e adotou o nome fantasia de Cervejaria Catharinense.
No início dos anos 20, com a chegada de um sócio, Seyboth, os rótulos passam a apresentar a identificação “Tiede, Seyboth & Cia”.
Em 1923, a empresa que fabricava cerveja de alta fermentação, foi transformada em cervejaria de baixa fermentação.
O DOU de 10 de julho de 1925, publica o registro das marcas Clarinha, Morena e Ouro sob os nº 2904, 2905 e 2906 respectivamente e tres meses depois, em 8 de outubro desse mesmo ano, publica o registro da marca Cerveja tipo Original Munchen, sob o nº 3563, para a firma Tiede, Seyboth & Cia.
A modificação, no processo, da cervejaria de alta para baixa fermentação, que visava alcançar maior produtividade, trouxe também problemas financeiros, os quais culminaram com a transformação, em 1928, da Thiede, Seyboth & Cia em Cervejaria Catharinense Ltda.
O Diário oficial de 1/11/1928 publica o deferimento da transferência das marcas nº 22023, 22024 e 22025, 22321 e 24038 da Tiede e Seyboth & Cia para a Cervejaria Catharinense.
Na formação da Cervejaria Catharinense Ltda. houve o aporte de capital de empresários e firmas da região, como Henrique Douat, Eugênio Fleischer, Colin & Cia, Böhm, H. Zimmermann e Werner Metz e Max e Georg Keller. “Tornando-se assim a maior cervejaria do Estado, com produção de 18 mil hectolitros/ano e capital investido de 800 contos de réis”.
Nesta época, final dos anos 20 e década de 30, a cervejaria contava com cerca de 80 empregados, era a maior do Estado e funcionava no mesmo local onde morava o seu fundador, Rua Quinze de Novembro, produzia as marcas Ouro Pilsen, Morena, Catharinense, Clarinha, Sem Rival, Porter e Munchen, além de refrigerantes.
A água utilizada na fabricação das cervejas e que era a grande chave de seu sucesso vinha de duas fontes: uma no terreno da própria empresa e outra na rua Padre Anchieta , por onde era escoada até a empresa através de uma tubulação subterrânea. Essa fonte de água mineral foi usada por mais de 50 anos para a produção de bebidas.
O Diário oficial de 2/03/1929 publica o registro da marca Ouro Pilsen sob o nº 13641 e em 8/03/1929, o Diário oficial de publica o registro da marca Sem Rival sob o nº 13687.
Em 21 de dezembro de 1929, o jornal "A República" publica a notícia da cessão onerosa (venda) que faz Alfredo Tiede, de suas quotas na Cervejaria Catharinense Ltda, no valor de Rs 60:000 (sessenta contos de réis) para Colin & Cia.
O Diário oficial de 4/12/1934 publica o registro da marca Optima.
O Diário oficial de 15/06/1935 publica o registro da marca Favorita.
Em 1938, deixa, definitivamente, de levar o nome Tiede, com a transformação da sociedade por quotas limitada para sociedade anõnima e inicia a construção da nova fábrica.
Em 1942, a Cervejaria Catharinense é reinaugurada e, com a conclusão do novo prédio, Werner Metz assume como diretor-presidente.
Em 1948, a Cervejaria Catharinense foi vendida para a Antarctica, que manteve a antiga razão social até 1962 quando passou a ser Cia. Antarctica Paulista - Industria Brasileira de Bebidas e Conexos e tornou-se, dentro de pouco tempo, uma das maiores cervejarias do Brasil, com filiais em cidades como Curitiba e Caxias do Sul.
Em 1973 a última grande mudança: a antiga Cervejaria Catarinense passa a se chamar Companhia Sulina de Bebidas Antarctica, e em 1998, após mais de meio século funcionando na rua 15 de Novembro 1383, bairro América, a fábrica foi desativada, foi a vez do fim da fabricação da cerveja Antarctica em Joinville.
Na época, o patrimônio foi passado para Bebidas Antarctica Polar que após 3 anos de abandono, em 2001, o vendeu à Prefeitura de Joinville que transformou os antigos galpões e depósitos na "Cidadela Cultural Antarctica", um complexo para a realização de eventos, cursos, oficinas e apresentações artísticas que deveria se tornar um centro de cultura, diversão e arte.
O imigrante Alfred Tiede (Alfredo), de profissão cervejeiro, nascido em 24 de outubro de 1854, em Thurn, na Suiça, filho de Christian Friedrich Tiede e Mathilde Braun Tiede (que viúva, também imigrou para a Joinville), chegou à Colônia Dona Francisca em 1881, aos 27 anos e ainda solteiro.
Logo casou com Karoline Mathilde, a Lilly, nascida Brand em 1857, que havia chegado com sua família, em outro navio, no mesmo ano de 1881. Disposto a começar uma nova vida escolheu como local desse recomeço um lote de 5,50 morgos (equivalente a 2.400 metros quadrados) na então Mittelweg ou Caminho do Meio, atual Rua XV de Novembro, curiosamente o local onde a princípio os imigrantes suíços se concentraram.
Algum tempo depois, juntamente com Carl Beyerstedt, outro imigrante e cervejeiro radicado na Colônia Itajahy (atual Brusque) casado com Charlotte von Lasperg, fundou a cervejaria Tiede & Beyerstedt que durou pouco tempo.
Carl Beysterdt, havia sido premiado em 30 de setembro de 1875 com a medalha de bronze (2º lugar) na 4ª Exposição de Produtos Agrícolas e Manufaturas das Colônias Itajahy e Príncipe Dom Pedro.
A partir de 1888, fundou a Cervejaria Tiede, que também fabricava gasosas, licores e até xaropes de frutas, as primeiras garrafas produzidas na Cervejaria Tiede começaram a chegar na mesa dos consumidores ainda em janeiro de 1889.
A abertura oficial do novo empreendimento foi no primeiro dia do ano e na edição de 9 de janeiro de 1889, o jornal “Reform”, de circulação local, publicava uma nota informando a comunidade: “O proprietário de cervejaria, sr. Alfred Tiede, que até este momento era sócio da firma Cervejaria Tiede & Beyerstedt, recentemente fechada, abriu a sua própria cervejaria, a qual também administra, no dia 1º de janeiro, sob a denominação de “Alfred Tiede”, segundo tradução da pesquisadora Brigitte Brandenburg.
Tiede apostou na crítica dos jornais e enviou para o editor, “como amostra”, 25 garrafas de sua produção. O resultado foi a nota que visava atrair mais clientes: “Julgamos que a amostra que nos foi enviada apresenta um gosto forte em uma cerveja muito clara e de bom encorpamento, que nós consumidores de cerveja desejamos. É uma cerveja que está acima das melhores cervejas aqui criadas, e que pode colocá-las em segundo lugar”, aproveitando para salientar o preço do produto, considerado bom para a época. “Se o sr. A. Tiede mantiver-se fiel a este princípio, e fermentar a sua cerveja na mesma qualidade com o qual nos enviou, não faltarão encomendas”, assinalava a resenha publicada no jornal.
Alfred Tiede morreu de câncer em 14 de junho de 1904, aos 50 anos, e não deixou filhos. Ele e Lilly tiveram apenas uma criança que também já havia falecido. O casal, havia adotado um sobrinho que tinha o mesmo nome do tio: Alfred Tiede, a coincidência de nomes cria certa confusão, o sobrinho era Alfred Carl Tiede (Alfredo Tiede), nascido em 1893, e filho de Rudolf Baade e Marie Tiede. As informações constam no Kolonie Zeitung, em nota que comunica seu casamento com Gertrud Bennack, em 1917, e foram traduzidas por Brigitte Brandenburg.
A Cervejaria de Alfred Tiede recebeu a medalha de segunda classe da Exposição de Agricultura Indústria e Artes, feita pela Sociedade Catarinense de Agricultura em 1905, pelas cervejas Porter, Kulmbach e Clara e medalha de terceira classe para a sua cerveja simples.
Medalha premial de segunda classe da Exposição de Agricultura Indústria e Artes
Após a morte do marido, Lilly Tiede a princípio assumiu os negócios da família. Rótulos da primeira década do século 20 mostram o novo nome da empresa: “Vª de A. Tiede” (Viúva de Alfred Tiede).
Por volta de 1915, o sobrinho Alfredo Tiede assumiu os negócios da mãe adotiva. A firma passou a aparecer nos rótulos como “Alfredo Tiede & Cia" e adotou o nome fantasia de Cervejaria Catharinense.
No início dos anos 20, com a chegada de um sócio, Seyboth, os rótulos passam a apresentar a identificação “Tiede, Seyboth & Cia”.
Em 1923, a empresa que fabricava cerveja de alta fermentação, foi transformada em cervejaria de baixa fermentação.
O DOU de 10 de julho de 1925, publica o registro das marcas Clarinha, Morena e Ouro sob os nº 2904, 2905 e 2906 respectivamente e tres meses depois, em 8 de outubro desse mesmo ano, publica o registro da marca Cerveja tipo Original Munchen, sob o nº 3563, para a firma Tiede, Seyboth & Cia.
A modificação, no processo, da cervejaria de alta para baixa fermentação, que visava alcançar maior produtividade, trouxe também problemas financeiros, os quais culminaram com a transformação, em 1928, da Thiede, Seyboth & Cia em Cervejaria Catharinense Ltda.
O Diário oficial de 1/11/1928 publica o deferimento da transferência das marcas nº 22023, 22024 e 22025, 22321 e 24038 da Tiede e Seyboth & Cia para a Cervejaria Catharinense.
Na formação da Cervejaria Catharinense Ltda. houve o aporte de capital de empresários e firmas da região, como Henrique Douat, Eugênio Fleischer, Colin & Cia, Böhm, H. Zimmermann e Werner Metz e Max e Georg Keller. “Tornando-se assim a maior cervejaria do Estado, com produção de 18 mil hectolitros/ano e capital investido de 800 contos de réis”.
Nesta época, final dos anos 20 e década de 30, a cervejaria contava com cerca de 80 empregados, era a maior do Estado e funcionava no mesmo local onde morava o seu fundador, Rua Quinze de Novembro, produzia as marcas Ouro Pilsen, Morena, Catharinense, Clarinha, Sem Rival, Porter e Munchen, além de refrigerantes.
A água utilizada na fabricação das cervejas e que era a grande chave de seu sucesso vinha de duas fontes: uma no terreno da própria empresa e outra na rua Padre Anchieta , por onde era escoada até a empresa através de uma tubulação subterrânea. Essa fonte de água mineral foi usada por mais de 50 anos para a produção de bebidas.
O Diário oficial de 2/03/1929 publica o registro da marca Ouro Pilsen sob o nº 13641 e em 8/03/1929, o Diário oficial de publica o registro da marca Sem Rival sob o nº 13687.
Em 21 de dezembro de 1929, o jornal "A República" publica a notícia da cessão onerosa (venda) que faz Alfredo Tiede, de suas quotas na Cervejaria Catharinense Ltda, no valor de Rs 60:000 (sessenta contos de réis) para Colin & Cia.
O Diário oficial de 4/12/1934 publica o registro da marca Optima.
O Diário oficial de 15/06/1935 publica o registro da marca Favorita.
Em 1938, deixa, definitivamente, de levar o nome Tiede, com a transformação da sociedade por quotas limitada para sociedade anõnima e inicia a construção da nova fábrica.
Em 1942, a Cervejaria Catharinense é reinaugurada e, com a conclusão do novo prédio, Werner Metz assume como diretor-presidente.
Em 1948, a Cervejaria Catharinense foi vendida para a Antarctica, que manteve a antiga razão social até 1962 quando passou a ser Cia. Antarctica Paulista - Industria Brasileira de Bebidas e Conexos e tornou-se, dentro de pouco tempo, uma das maiores cervejarias do Brasil, com filiais em cidades como Curitiba e Caxias do Sul.
Em 1973 a última grande mudança: a antiga Cervejaria Catarinense passa a se chamar Companhia Sulina de Bebidas Antarctica, e em 1998, após mais de meio século funcionando na rua 15 de Novembro 1383, bairro América, a fábrica foi desativada, foi a vez do fim da fabricação da cerveja Antarctica em Joinville.
Na época, o patrimônio foi passado para Bebidas Antarctica Polar que após 3 anos de abandono, em 2001, o vendeu à Prefeitura de Joinville que transformou os antigos galpões e depósitos na "Cidadela Cultural Antarctica", um complexo para a realização de eventos, cursos, oficinas e apresentações artísticas que deveria se tornar um centro de cultura, diversão e arte.
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