quarta-feira, 10 de junho de 2020

Fábrica de cerveja Carlos Stiebler / Cervejaria Dois Leões



Após a inauguração da Estrada União Indústria em 1861, e conclusão dos prazos de contratos com a Companhia União e Indústria, os alemães reuniram suas economias e organizaram pequenas indústrias, contribuindo para que Juiz de Fora recebesse o título de “Manchester Mineira”. Entre os anos de 1861 e 1894 foram fundadas 9 cervejarias em Juiz de Fora – MG, dessas nove cervejarias, cinco criaram ao lado de suas fábricas, parque de diversões, salões para bailes, jogos e encontros familiares. Estas cervejarias, portanto, cumpriam uma função social na cidade, com áreas destinadas ao lazer e esportes e, ao mesmo tempo, garantiam a venda de seus produtos.


Em consonância com o movimento industrial que tomou conta de Juiz de Fora no final do século XIX. O mecânico alemão Carlos Stiebler, nascido em 14 de marco de 1868, em Hamburgo, foi casado com Philippina Jung Stiebler, e teve diversos filhos.

Construiu um belíssimo casarão onde fundou em 1º de janeiro de 1894 uma fábrica de cerveja que levava seu nome, situada na margem esquerda do rio Paraibuna.na Rua Botanágua 127 (posteriormente conhecida como Avenida Garibaldi e desde 1922 Avenida Sete de Setembro, hoje trecho oficial da Estrada Real)


Em 1º de maio de 1899, O Minas Gerais - Órgão Oficial dos Poderes do Estado publicou que na sessão da Junta Comercial de 11 de abril de 1899, foi deferido o registro da firma estabelecida na rua do Botanagua, para fábrica de cerveja e aguas gazozas.

    

A Cervejaria Dois Leões, era especializada em cerveja preta. Produzia a afamada cerveja “Dois Leões” além das marcas Pilsen, Morena, além da fabricação de cerveja, também produzia sodas e brauses, equipada com maquinário para arrolhar e engarrafar, além de filtros, pasteurizadores, bombas, caldeiras, tinas, barris e garrafas. A matéria-prima era importada da Alemanha, da Áustria e da Espanha.

    

Ao redor da fábrica de cerveja ele construiu um belo parque de recreação, onde aos domingos iam passear numerosas famílias. O parque foi inaugurado em abril de 1903, próximo à fábrica de cerveja. Ali se construiu um prédio destinado ao público, com um grande salão e salas espaçosas para bailes e festas. À frente da casa, foi construído um jardim, e, ao fundo, um parque com caramanchões.


Com a consolidação econômica e conseqüentemente a formação de uma “elite” alemã representativa na cidade, deu-se início a uma intensa vida social, onde os alemães, teuto-brasileiros e brasileiros se reuniam com diversos fins. Com destaque aos encontros semanais nos parques das cervejarias existentes em Juiz de Fora, com o objetivo de promover o lazer e o encontro das famílias.

A freqüente adesão a estes encontros que aconteciam em especial no Parque da Cervejaria “Dois Leões”, encorajou o então proprietário Sr. Carlos Stiebler a instalar, por sugestão do Sr. Hans Happel, assíduo freqüentador e entusiasmado com a juventude presente, alguns aparelhos para a prática de ginástica.

Dentro da propriedade havia o seu escritório, a residência da família e havia ainda a Malharia Stiebler que o mesmo Stiebler inaugurou no dia 8 de março de 1907 para fabricação de meias e camisa de malha.


Em 1905, a fábrica produzia 15.000 garrafas por mês e seu capital era de Rs 80.000$000,00.

Em 1907 a fábrica tinha Rs 100:000$000,00 de capital, força motriz de 20 CV, valor de produção de 371:000$ e 15 operários.

Em 1908 o jornal "O Pharol" faz uma citação à Cervejaria Dois Leões possuidora de um edifício que mede 11.200 metros quadrados, com um motor de 20 cavalos, tem uma produção anual de 150.000 garrafas de cervejas e águas gazosas e sendo seu proprietário Carlos Stiebler.


As primeiras práticas de ginástica ocorreram conforme já mencionado no Parque da Cervejaria Stiebler. Neste local havia um espaço aberto para diversas atividades, o que era comum em outras cervejarias, sendo um local para festas, encontros e reuniões.

Além desse espaço havia um salão de festas, fechado, onde ficavam instalados os aparelhos de ginástica, como argolas, trapézio e paralelas O incremento das atividades ginásticas no pátio da Cervejaria Dois Leões levou os frequentadores à decisão de fundar um clube de ginástica, o qual foi denominado Turnerschaft-Clube Gymnastico de Juiz de Fora no ano de 1909, o qual permaneceu na cervejaria Stiebler por alguns anos.

Em 27 de março de 1918 falece Carlos Stiebler e a cervejaria passa a ser gerenciada por sua esposa e filhos.


O Diário Oficial da União de 18 de março de 1924 publica o requerimento da Viuva Stiebler & Filhos de Minas Gerais para o deposito da marca de Cerveja Victoria, registrada na Junta Comercial daquele Estado sob nº 885.

Em 19 de outubro de 1924, a grande cervejaria Stiebler, cuja matriz era em Juiz de Fora, teve sua filial em Barbacena instalada pela firma Viúva Stiebler & Filhos. Com capacidade de 3.000.000 de garrafas de cervejas na sua produção anual. Uma das marcas da cervejaria Stiebler era a " Bavária".

A fabrica Stiebler é a antiga Saxonia, situava se na antiga extensão da rua Sena Madureira, hoje rua Benjamin Constant. Ressurgida após vários trabalhos de reconstruções com admiráveis melhoramentos no pavilhão central e dependências, além da substituição das máquinas antigas por modernas importadas diretamente da Alemanha, o seu maquinário foi montado e instalado pelo técnico Dr. Júlio Masham Nathan, com nova direção, e com pessoal habilitadíssimo.

Na filial de Barbacena existe uma fabrica de gelo que produz 5.000 kilos em cada período de 10 horas. Teve na época destaque especial a seção de lavagem, enchimento e arrolhamento das garrafas, onde eram aprontadas cerca de 8000.00 garrafas por hora.
A cervejaria Stiebler também pertenceu a Sra Rita Abranches Quintão e o Sr Vigílio Quintão.

O prédio que abrigou a cervejaria, após o encerramento de suas atividades abrigou vários comércios, alguns deles: a Casa Nilo, a Distribuidora VeV, a Madeireira São José, a Osarte tintas, a Casa da Bateria União, o Moto taxi Minas e uma Oficina mecânica nos fundos. Posteriormente foi demolido, e atualmente nada se escontra no terreno.

O Diário Oficial da União de 13 de junho de 1926 publica o deferimento do requerimento para registro da marca Cerveja Bavária pela Viúva Stiebler & Filhos.

Não sei o que levou ao encerramento das atividades em Juiz de Fora, nem em que ano foi, mas o Almanack Laemert - Administrativo, Mercantil e Industrial traz registro da cervejaria até ao ano de 1940, referente ao ano de 1939.

Com o fim das atividades industriais em Juiz de Fora, o casarão passou a ser ocupado como residência familiar, sendo adquirida pelo general do exército Wagner Pereira Werneck nos anos 40, estando nas mãos da família desde então.
Com a decisão de sua conservação, foi totalmente restaurada para abrigar uma casa de festas, onde a riqueza de detalhes da época foi rigorosamente reconstituída. Uma obra delicada e apaixonada, que durou cerca de 2 anos e meio. Com um amplo salão, cozinha industrial, copa de garçons, bar, varandões, banheiros masculino e feminino, conta ainda com instalações exclusivas para portadores de necessidades especiais, além de dois belíssimos jardins, belas janelas de pinho de riga, portas de cedro e um pé-direito de 7 metros fazem do Casarão um local especial para seu evento.

sexta-feira, 5 de junho de 2020

Cervejaria José Weiss



Para um melhor entendimento sobre a história dessa cervejaria é necessário algumas notas, a Cervejaria José Weiss esteve atuante durante 98 anos, 94 dos quais sob a administração da família Weiss. Seus administradores ao longo do tempo foram: José Weiss, Viuva José Weiss (Henriqueta Guilhermina Weiss), José Weiss Júnior, Eduardo Weiss, José Weiss Neto. E foi administrada nos últimos 4 anos por um grupo de empresários portugueses que mantiveram o nome. Mas vamos ao que interessa.

O imigrante alemão Joseph (José) Weiss chegou ao Brasil em 1858 com cinco anos de idade, era natural da cidade de Dalberg, estado da Saxônia na Alemanha, veio para o Brasil acompanhado de seus pais Joseph Weiss e Elisabeth Shrunk e seus quatro irmãos menores: Agnes, Elisabeth, Susanna e Phillip.

Em Juiz de Fora-MG, anos depois, casou-se com Henriqueta Guilhermina e teve onze filhos: José Weiss Junior, Jacob, Eduardo, Guilherme, Elisa, Catharina, Sophia, Gabriella, Dorotéia, Henriqueta e Maria Elisa.

Trabalhou durante algum tempo como cervejeiro na Imperial Fábrica de Cerveja Nacional de Augusto Kremer, tornando-se, em pouco tempo, sócio da firma.


Com a morte do proprietário da cervejaria Augusto Kremer em 1878, a sociedade que havia entre eles é dissolvida,em 14 de janeiro de 1879, retirando-se com o valor de seis contos de réis, que era o seu capital, acrescido de mais dez contos de réis entre valores em caixa da cervejaria e o depósito que havia na cidade de Barbacena, Minas Gerais.

Meses depois de deixar a sociedade da firma Augusto Kremer & C., José Weiss anuncia no jornal O Pharol a instalação de sua nova fábrica de cerveja, dentro do primeiro núcleo habitacional alemão conhecido como Villagem (localizado afastado do centro da cidade), situada na antiga chácara do barão de Pitangui, primo-irmão de Mariano Procópio, a qual estava aberta para arrendamento desde 1877, sob a responsabilidade da Companhia União e Indústria.


José Weiss era um exigente cervejeiro, que fabricava artesanalmente sua própria cerveja, havendo informações que as fabricadas em Juiz de Fora causavam dor de cabeça. Weiss controlava os ingredientes que eram empregados na fabricação da bebida, fazia questão que a água fosse puríssima e, além disso, importava o malte, o cânhamo e lúpulo da Alemanha.

Dentro da Villagem, a área de destaque logo se definia: A fábrica marcava o final da primitiva Rua da Colônia (atual Bernardo Mascarenhas). A rua que se tornou o polo atrativo para a elite.

O cotidiano dos alemães não era só de trabalho, das nove cervejarias existentes na cidade de Juiz de Fora, cinco propiciavam à população juizforana momentos de diversão e lazer. Eram parques, jardins, salões destinados à realização de bailes, espaço livre para jogos recreativos e brincadeiras que propiciavam o encontro de toda sociedade. Nesses espaços, assim como nas associações assistencialistas, os alemães podiam manter vivas algumas de suas tradições e, ainda, ampliar o convívio com a sociedade local.

O alemão José Weiss era muito influente, tanto entre os colonos alemães, quanto na comunidade juiz-forana. Muitas das festas da colônia, até o ano de 1892, foram realizadas nas dependências de sua cervejaria.

A Cervejaria José Weiss, foi sucesso na cidade, tornando-se ponto de encontro de imigrantes alemães e seus descendentes.

Em 1897 foi constituído o hipódromo, Prado de Juiz de Fora, nas terras arrendadas da cervejaria, mais tarde,em 1906, foi transformado em velódromo do Cicle Club Juiz de Fora.

Em volta da cervejaria, foram construídos um grande salão de festas para bailes e parque de diversão, com roda gigante, a primeira da cidade, pista para boliche e o estande de tiro do Revólver Club. Grandes eventos foram realizados no grande pátio da cervejaria. Entre eles, uma homenagem ao governador de Minas, Antônio Carlos Andrada. Era um local amplo e pitoresco no qual se faziam pic-nics animados por bandas de música, dançava-se, embriagava-se, atirava-se em pombos ou no alvo, apostava-se em corridas de cavalos, tomava-se a melhor soda da cidade.


No pátio da cervejaria, na rua Bernardo Mascarenhas, eram realizados “Biergärten”, grandes eventos onde a rainha da cervejaria, a cerveja Britannia, era servida gelada.

Em 1902, a fábrica tem uma produção anual de 60000 garrafas de cerveja e 12000 de água mineral emprega 6 pessoas e possui maquinismo para arrolhamento das garrafas e fabrico de água mineral.

Em 23 de julho de 1903, José Weiss vem a falecer e sua esposa e seus filhos continuam a gerenciar a cervejaria.

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Mais tarde, a viúva de José Weiss, além de manter a produção dos produtos já existentes iniciou a produção de uma cerveja preta especial, muito nutritiva e de sabor agradável.


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Em 16 de dezembro de 1906 é inaugurado o velódromo nas terras da cervejaria.

Em 1907, a fábrica de cerveja Weiss, em Juiz de Fora - MG, conta com 10 empregados.

Sob a administração de seu filho José Weiss Júnior foram fabricados diversas marcas de cerveja e refrigerantes
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Em 3 de junho de 1920, falecia na cidade, aos 42 anos de idade, o capitão José Weiss (josé Weiss Júnior), gerente e co-proprietário da Cervejaria José Weiss. Ficando a cervejaria a cargo do seu irmão Sr. Eduardo Weiss.


Até a década de 1920, Juiz de Fora era considerada a principal cidade de Minas Gerais, por sua pujança econômica e por seu desenvolvimento cultural. A cidade está localizada próxima ao Rio de Janeiro e vivenciou um intenso processo de modernização a partir da segunda metade do século XIX.

A cervejaria, ao longo do tempo, participou de diversas exposições tanto na cidade, quanto em outros estados e até em outros países. Esteve presente em 29 de agosto de 1886 no Paço da Câmara Municipal, apresentando seus produtos na Exposição Municipal de Juiz de Fora, participou da exposição realizada em 1907, no interior mineiro, em Leopoldina e também em 1908 na Exposição Nacional do Centenário, no Rio de janeiro, em 1910 participou da Exposição Turim-Roma e em 1921 em Londres.

Em 1947, o engenheiro Dr. José Weiss Neto assume a direção da cervejaria.

Em 2 de maio de 1948, falece em sua residência, na Rua Bernardo Mascarenhas no. 1503, o Sr. Eduardo Weiss, proprietário da Cervejaria José Weiss e diretor do Centro Industrial de Juiz de Fora.


Em 1950, O Dr. José Weiss Neto, após comprar todo maquinário moderno de engarrafamento, trouxe um dos 10 melhores mestres cervejeiros da Alemanha, Senhor Adolph Redlish e família, com isso elevou muito o nível e lançaram a cerveja Weiss Export, deixando e ser uma venda regional para se expandir para novos mercados, principalmente Rio de Janeiro, onde em pouco tempo, foi reconhecida como a melhor cerveja brasileira. A Cervejaria José Weiss ficou famosa pela cerveja choppinho, produzida no formato long neck.

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Em 1973, a cervejaria foi vendida para um grupo português, que ainda tentou manter o nome e a cervejaria funcionando sob a nova direção. Funcionou até o ano de 1977, quando foi declarada sua falência. A massa falida dos portugueses, bem como as instalações da antiga Cervejaria José Weiss foi comprada pelo empresário Luiz Ferreira Marangon Macedo. Marangon, ao adquirir a fábrica e os equipamentos muda o nome para Cervejaria Americana, sem nenhuma relação, mas com o mesmo nome da antiga Cervejaria Americana ex-Germania.